Mural da História – 2012

Me dizem ao pé do ouvido que o símbolo da discórdia no alfabeto chinês são duas mulheres sob o mesmo teto. Agarro-me ironicamente nessa imagem para tornar mais leves os últimos vestígios da saga dos vikingues em suas intrépidas (sempre intrépidas) travessias dos mares. As chalupas eram compridas e estreitas, com uma quilha muito profunda, e construídas com traves finas de carvalho sobrepostas. Assim, mais leves e manobráveis, singravam as águas com apenas uma vela retangular e cerca de 16 pares de remos de pinho.

Eles eram retirados da água por engenhosas portinholas que podiam ser fechadas durante uma tempestade ou por causa de um mar agitado demais. Os vikingues não tinham mapas nem bússolas, mas guiavam-se muito bem pelo Sol e pelas estrelas. Pelas aves marinhas mediam a distância da terra firme. Documentos escandinavos rezam que Bjarni Herjulsson atingiu a América no ano de 985. Tantas viagens, tantas conquistas, mas para nós deixaram apenas um jeito estranho de se adornar com chifres e beber desbragadamente.

Aí volto a pensar na discórdia. Mas acho que ela já está longe. O sufixo córdia vem de coração. Corde em latim. Concórdia é com o coração. Discórdia é sem o coração. A cabeça fica fora disso. Concordar é colocar o coração na mão de outra pessoa. Toma, é minha vida! Enquanto isso, os vikingues eram expulsos da América pelos índios. Eles só queriam levar madeira para as colônias da Groenlândia. Se fossem espertos como os portugueses teriam trazido espelhinhos, colares, Coca-cola.

Os índios iriam cair como patinhos. Porém, segundo parece, o príncipe galês Madoc ap Owain Gwynedd deixou uma placa em Fort Morgan, no Alabama, dizendo que desembarcou na baía de Mobile em 1170 e deixou com os índios a língua galesa. O que os índios fizeram com ela não se pode relatar aqui. Importante é saber que a América já estava na cama e descoberta há muito tempo. Seu corpo escultural sofregamente estendido convidava para prazeres inenarráveis.

(Comentário: as investigações de muitos entendidos tornaram os fatos suficientemente obscuros e inviáveis.)

*Rui Werneck de Capistrano é viajante sem bússola nem bandeira

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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