Outra daquele tempos – Fraga x Werneck

Não me lembro por que — o Fraga deve saber — o trio de humoristas gaúchos veio a Curitiba lá por 1980. Vieram o Fraga, o Vasquez e o Santiago. Já pensou? O Fraga tinha publicado Punidos Venceremos, o Vasquez já rodava com o Rango e o Santiago ganhava muitos concursos de cartum pelo Brasil. Estava armado o circo. Sei que chegou uma hora que o Solda e eu resolvemos fazer uma homenagem aos ilustres ilustradores visitantes. Seria um rango — pra lembrar do famoso personagem do Vasquez — na casa do Solda.

O que fazer? A gente nem pensou em assar churrasco. Não queríamos passar vergonha, né? Naquele tempo — modéstia às favas! — eu fazia um frango xadrez de dar água na boca. O Solda e eu compramos os ingredientes e partimos pra cozinha da Vera Solda. Eu estava preparando meu primeiro livro de poemas chamado Nuvem sem calças — paródia de um poema do Maiakovski. O Thadeu Wojciechowski escolhia os poemas, o Lee Swain fazia a capa, o Rogério Vichinheski, do laboratório fotográfico da P.A.Z., me ensinava a fazer fotolito.

Voltando ao assunto, a mulher do Fraga veio junto com o trio de gaúchos. Eu, pra me exibir, prometi um exemplar do livro pra ela. Depois, o Solda e eu nos envolvemos com o frango xadrez e tudo correu muito bem. Acho que foi tudo bem, né? Bá, tchê! Gaúcho comendo frango xadrez! Mas que taaaal?!

Algum tempo depois da fantástica visita, em 1981 o livro estava pronto e enviei à mulher do nobre Fraga. Mais outro tempo, recebi uma carta dele. Que surpresa agradável seria se… Isso mesmo, se… Se ele não estivesse me dando um baaaaita puxão de orelhas por ter mandado um exemplar do livro pra mulher dele. Caramba! Ele dizia, mais ou menos, que a mulher dele se fechava no quarto e ficava lendo e rindo com os poemas. E isso não estava certo. Deu ciúmes. Foi motivo de briga entre eles. Naquele tempo não tinha internet. As cartas eram trazidas por carteiros e demoravam — tem gente nova que nunca viu um carteiro! Assim como tem gente que, diz o Woody Allen, pensa que New Jersey é um lugar onde os bifes pastam vivos! Essa piada foi só pra aliviar a tensão que eu senti… naquela hora. Sei que passei bom tempo — ponha bom tempo nisso — pensando no mal que havia feito enviando o livro. Até que um belo dia o Solda me disse que havia sido armação. Eles combinaram de me pregar uma peça e… conseguiram. Coisa de humoristas. Cara, foi um alívio muito grande!

No mais, tudo era uma grande farra! Pode acreditar. Como diz o próprio Fraga no Punidos Venceremos — ainda tenho inveja dele por ter um livro diagramado pelo Miran! — só trocaria meus anos passados por uma coisa: anos ainda amarrotados.

(Rui Werneck de Capistrano é autor de Nem bobo nem nada)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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