Drosófilas reproduzem

Genética patética. Um pequeno inseto chamado cientificamente de drosophila melanogaster — mais conhecido nas rodas de biólogos por drosófila e em casa por mosca-da-fruta — é nosso convidado de hoje.

Preâmbulo

Um tal Gregor Mendel — que também poderia ser chamado de Gregor Samsa — um dia ousou predizer como seria a descendência de ervilhas-de-cheiro de casca rugosa quando cruzadas com ervilhas-de-cheiro de casca lisa: iriam nascer jogadores de hóquei no gelo, com dentes quebrados e cheiro de estrebaria. E tentou prever que porcentagem de ervilhas amarelas, de talo curto, seria obtida do cruzamento delas com ervilhas verdes, de talo longo: deu 50% de um jogador de futebol vestindo calção verde e camisa amarela. Os outros 50% foram de patrocinadores do jogador.

Daí em diante, foi um eufórico cruzar disso com aquilo — polenta com frango, abacaxi com pé de alface, pneu velho com máquina de costura, cadeira de dentista com raia bidê, etc. Tudo em nome da ciência da hereditariedade. Só que criar um pneu até envelhecer e em seguida tirar uma máquina de costura da família para fazer o cruzamento, por exemplo, saía muito caro. Assim a ciência da hereditariedade ficou às moscas.

O casamento das Drosófilas

Um biólogo chamado Morgan conversou com essas moscas e, vendo que elas estavam desempregadas, ofereceu bananas para que participassem de uma grande suruba. Ele tinha umas ideias e queria pôr em prova. A mosca era chamada cientificamente de Drosophila melanogaster e descendia de uma família tradicional e conservadora ao extremo. Morgan, porém, foi convencendo uma a uma de que a suruba era em prol da ciência.

— Caramba — exclamou Morgan — esses bichinhos são prolíficos! Mil ovos por vez e trinta gerações num ano! Tudo a preço de banana! Estou feito.

Foi sopa no mel! Ou, mosca no mel. Morgan pegou uma fêmea de olhos vermelhos e casou-a na marra com um macho mutante de olhos brancos. Nem amor havia entre os dois! A cerimônia contou com poucos convidados. Entre eles — Bill Clinton e secretária, Tiger Woods e um taco de golfe, Xuxa e os setes anões, Usian Bolt e a obra Em busca do tempo perdido. Teve apresentação do Zeca Pagodinho e seus cervejeiros.

Os quase mil filhotes resultantes da noite de núpcias proporcionaram satisfação imediata a Morgan. Os biólogos de todo o mundo bateram palmas e mataram uns cem filhotes no ar. O prêmio Nobel sorriu para Morgan e seus asseclas. O mundo vibrou com a descoberta porque “o mecanismo da fertilização permanecia como misticismo impenetrável”. Não foi isso que sentiu a dona Drosófila quando o marido a abandonou porque alguns filhotes machos tinham olhos vermelhos. Macho que é macho tem olhos brancos e cospe no chão! Ele desconfiou da fidelidade da esposa e fugiu. Claro que seu paradeiro foi descoberto e ele quase foi à falência para pagar, todo mês, a pensão alimentícia dos 812 filhotes. A esposa vive nas Bahamas onde desfruta de bananas à vontade, para ela e toda a prole. Comenta-se que quinhentos filhotes formaram um coral, dois foram convocados para a Seleção Brasileira, seis viraram moscas-bombas, sete se formaram em Psicologia. Dos demais, pouco se sabe. A Ciência da Hereditariedade vai bem, obrigado. Hoje atende pelo nome de Genética e só corta os cabelos com o renomado JessyHair.

Errata: Gregor Mendel não é Gregor Samsa. Este último tem a ver com dona Periplaneta americana que casou com o senhor Fratercula arctica e teve oito filhos  comentaristas de futebol.

*Rui Werneck de Capistrano é sinuquista e analista de sistemas fechados de Tempo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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