Flatos e panfletos

Gosto de ler panfletos tanto quanto pessoas mais sérias gostam de soltar flatos em reuniões da mais alta sociedade. Fufffff! Sereno e simples, levantando levemente a bunda da cadeira. Fuffffffff! Mas, como dizia, gosto de ler panfletos, principalmente esses que se querem sérios, escritos por doutores ou pessoas de estirpe e verve absolutamente impolutas. Alguém, um doutor, que indica, por exemplo, alongamento: “Todo treinamento físico envolve um estímulo e uma adaptação do organismo. Neste caso, o estímulo é explorar os limites de amplitude das articulações.”

Cara, me imagino explorando os limites de amplitude das articulações… e me sinto chique de butique. Quando ele conta por que é bom fazer alongamento, diz: “(…) o alongamento aumenta a segurança de exercícios físicos ou tarefas motoras do cotidiano como brincar com os filhos, (…)” Quase tive um orgasmo lendo tarefas motoras do cotidiano. Logo a seguir ele tem um primor: “Um outro benefício ainda pouco esclarecido é a melhora da coordenação motora e reflexos em geral.” Caramba!

A frase inteira mata tudo o que ele escreveu em três lâminas do panfleto! Se tudo o que se quer de um alongamento ainda é pouco esclarecido, então, estamos fritos. Ah, e tem mais! Veja: (O alongamento) “Parece facilitar a comunicação entre o cérebro e os músculos, o que contribui para um maior controle e precisão dos movimentos. Nota-se que até o andar de um praticante de alongamento é mais coordenado, menos tenso e até mais confiante, repare…” Meus sais! Já vejo o cérebro brigando e ficando sem falar com os músculos que não foram alongados!

E essa mulherada, que agora usa os pneus bem calibrados pra fora da blusa curtinha, será que alonga? É por isso que amo panfletos. Servem para que eu faça alongamentos cerebrais intensos aumentando a amplitude do sorriso logo cedinho. Tente. Leia um até em voz alta. E ria muito. O cérebro vai se alongar até chegar quase perto do de um Einstein, por exemplo. Se não chegar, pelo menos passa de um tipo Ratinho. Fuufff!

*Rui Werneck de Capistrano alonga seus horizontes culturais.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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