A luta de Yared, a Justiça do Paraná e a família Carli

O que sobrou de 9 anos de luta da mãe e deputada Cristiane Yared para que o responsável pela morte de dois jovens no trânsito de Curitiba, o ex-deputado Carli Filho, fosse exemplarmente punido, foi um desabafo meio desesperado diante dos desembargadores da Primeira Câmara do Tribunal de Justiça. “Por misericórdia – disse ela, num último protesto solitário- “eu espero que não nasça mais nenhum filho no Brasil, para que nenhuma mãe mais precise passar por isso.”

Não se pode avaliar aqui, o que seria um ponto de vista leigo apenas, os trâmites judiciais desta longa causa. Também há que se considerar a situação difícil da família Carli, que perdeu há alguns meses o filho mais novo, o deputado Bernardo Carli, num acidente de avião e é possível que este tenha sido um fator que deve ter pesado na decisão dos magistrados.

A morte do jovem Bernardo manteve silenciosa a opinião pública paranaense, que até então cobrava punição exemplar para o ex-deputado.

É claro que o Fernando Carli Filho de hoje é muito diferente do jovem deputado que tinha o mundo a seus pés há 9 anos. Perdeu o cargo, a estampa privilegiada, a paz, teve problemas de saúde e se refugiou em Guarapuava, a cidade onde nasceu. A perda do único irmão e herdeiro político foi um dado cruel e inesperadamente desumano na tragédia.

Ao final dessa história, e 9 anos depois, só sobra sofrimento. São duas famílias enlutadas por mortes prematuras, os jovens Carlos Murilo de Almeida e Gilmar Rafael Yared morreram num acidente de trânsito por irresponsabilidade do deputado Fernando Ribas Carli. Ele iniciou naquela noite um calvário pessoal que só terminou agora, e mesmo assim, com marcas definitivas. E as mães Cristiane e Ana Rita choram suas perdas dramáticas, sem fim.

Diante de um cenário assim, a Justiça do Paraná pode ter dado um mau exemplo a motoristas que se comportam no trânsito com irresponsabilidade. Mas, a se olhar e considerar todos os fatores, o respeito pelo sofrimento alheio ainda torna até mesmo desembargadores que devem julgar com frieza e imparcialidade, simplesmente humanos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Ruth Bolognese - Contraponto e marcada com a tag , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.