Dinheiro pelo ladrão

É tanto que pode ser jogado no vaso, atirado pela janela ou despejado no mar

Uma operação da Polícia Federal, na semana passada, em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, descobriu R$ 3.000 em dinheiro atirado num vaso sanitário. O suspeito, ex-funcionário da Cemig, apavorou-se e tentou se livrar da grana —e logo onde. O esquema em investigação se referia a uma propina de R$ 30 milhões envolvendo o Ministério da Agricultura durante o governo Dilma. Por sorte, o tal suspeito era um peixinho. Fosse ele a se livrar dos R$ 30 milhões, teria entupido o sistema de esgotos da cidade.

Também outro dia, em mais uma operação da PF, esta em Rio Bonito, região metropolitana do Rio, um deputado atirou pacotes de notas altas pela janela de seu apartamento. Não foi o primeiro no gênero. Em 2015, sempre fugindo da PF, outro bacana de uma estatal já havia atirado dinheiro pela janela de um apartamento em Recife. É o que Geddel Vieira Lima teria feito em Salvador com seus R$ 50 milhões, se precisasse. E o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, idem, se livrando de sua mala de R$ 500 mil pela janela daquele táxi.

Os cariocas ainda se lembram dos milhares de notas de R$ 100 e R$ 50 que apareceram boiando na Urca, em 2016. As pessoas caíam na água e voltavam com dinheiro para fazer o supermercado pelo mês inteiro. Supõe-se que foi despejado de algum iate ancorado na baía, cujo proprietário se julgava prestes a levar uma geral. E quem não se recorda dos 100 mil dólares encontrados na cueca do assessor de um deputado do PT, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em 2005? Só não foram vazados num toalete porque a polícia abotoou o sujeito a tempo.

O povo lê essas notícias e fica perplexo. Com que então o dinheiro drenado pela corrupção é tão sem tamanho que sai literalmente pelo ladrão, jogado na privada, atirado pela janela ou despejado no mar? 

A corrupção rebaixa o valor do dinheiro. É o pior que se pode fazer contra ele. 

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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