Frases para a história

Quem disse ‘Nunca nomeie quem você não pode demitir’?

Uma frase muito usada nas últimas semanas, desde que Jair Bolsonaro convidou o juiz Sergio Moro a ser seu ministro da Justiça e este aceitou, é: “Nunca nomeie quem você não pode demitir”. A ideia é a de que Moro tem tanto peso junto à opinião pública que, se os dois se desentenderem, as consequências serão cataclísmicas —para Bolsonaro. Se ele demitir Moro, terá de se explicar muito bem. Se Moro se demitir, será o equivalente a estar demitindo Bolsonaro.

Tudo isto é meio óbvio, só restando estabelecer de quem é a frase fatal. Já a ouvi atribuída a Tancredo Neves, Delfim Netto, César Maia e outras figuras do raposário. Bem, o autor é… nenhum deles. Trata-se da adaptação de uma máxima dos cursos de business nos EUA, e tão velha que, mesmo lá, o nome do autor já se perdeu: “Never hire somebody you can’t fire” —“Nunca contrate quem você não pode demitir”.

Quando se trata dessas frases que parecem dizer tudo com o mínimo de palavras, é difícil imaginar uma que os americanos já não tenham criado. Ou quase. O filme de John Ford, “O Homem que Matou o Facínora” (1962), por exemplo, tem uma que passou à história: “Quando a lenda se torna fato, publique a lenda”. É dita pelo repórter interpretado por Carleton Young ao personagem de James Stewart quando este revela, 25 anos depois, que não foi ele quem matou o facínora Lee Marvin, e sim John Wayne. Suponha agora que, muito antes, um brasileiro já tivesse dito algo parecido.

A frase, dos anos 40, é “O que importa não é o fato, mas a versão”, e sempre foi atribuída ao político mineiro Benedito Valadares. Mas o verdadeiro autor seria outro mineiro, José Maria Alkmin. Que nunca se conformou com o fato de não ver isso reconhecido. Dizem até que, certa vez, ele se queixou: “Poxa, Benedito. Eu invento a frase e as pessoas acham que foi você!”.

Ao que Benedito respondeu: “O que prova que ela está certa”. 

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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