Ofertas irresistíveis

Capa do livro ‘A Sutil Arte de Ligar o Foda-se’

Para que ir a livrarias ou a lojas de rua ou de shopping?

Como um dos últimos usuários vivos do email, continuo recebendo mensagens com ofertas irresistíveis, enviadas à minha revelia e por gente que desconheço. Elas incluem desde comprar uma casa com vista para o Polo Sul na Patagônia até reservar um túmulo com xis megabytes no primeiro cemitério virtual, a ser inaugurado em breve pelo Google. Como não preciso de nada disto, apenas as deleto e vou tratar da vida. Mas uma mensagem recente da Amazon  me abalou. Parecia um catálogo antigo da Sears e oferecia toda espécie de produtos a preços pela metade e entrega na minha porta em dois dias, com frete grátis. Era só ir abrindo as páginas até achar a seção que me interessasse —e clicar.

Algumas seções: eletrônica, celulares, computadores, bebês, brinquedos, jogos, macacões, ferramentas, material de construção, esporte, uniformes, aparelhos de ginástica, camping, barcos; moda, sapatos, guarda-roupas, joias, bijuterias, adereços, casa, cozinha, móveis, beleza, saúde, cuidados corporais e, talvez —cansei e parei de abrir as telas—, transportes: aviões, navios, submarinos.

Cada uma dessas seções se dividia numa infinidade de itens. A dos bebês, por exemplo, “disponibilizava” fraldas pró-ambiente, sutiãs para amamentação, indutores de arroto, peniquinhos vintage de ágata ou porcelana e “baby-sitter” artificial. A de cuidados corporais oferecia desodorante sabor cenoura, xampu pós-barba, creme para pele atópica, moldes para design de sobrancelha e manteiga ativadora de cachos. Etc.

Para não dizer que a Amazon não oferecia livros, procurei saber quais ela recomendava. Eram “Como Mentir com Estatística”, de Darrell Huff, “A Sutil Arte de Ligar o Foda-se”, de Mark Manson, e “Seja Foda”, de Caio Carneiro.

Para que ir a livrarias ou a lojas de rua ou de shopping se você pode ter essas maravilhas em sua porta a preço módico, em dois dias e com frete grátis?

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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