Cemitério virtual

Morrem 8.000 usuários do Facebook por dia. Mas será que morrem mesmo?

Uma estimativa feita há tempos por especialistas revelou que, no ano de 2098, haverá mais mortos do que vivos no Facebook. Essa sinistra previsão se justifica porque, em nosso próprio tempo, inúmeros usuários do não menos sinistro veículo continuam a existir nele, mesmo depois de mortos e sepultados. Pelo que entendi, os parentes e amigos desses mortos não se conformam com a sua partida para o Além (ou para o Aquém, dependendo do caso) e insistem em se comunicar com eles, dando-lhes, à falta de melhor, uma sobrevivência virtual.

Uma amiga, embora sabendo de minha ignorância sobre o assunto —sobre o Facebook, não sobre a morte—, perguntou minha opinião. Primeiro, estou encantado com o otimismo dos especialistas. Eles não apenas acreditam que o Facebook terá mais mortos do que vivos em 2098, como que o próprio Facebook ainda existirá em 2098.

Do que duvido muito. Pela rotatividade da internet, nada impede que, semana que vem, o Facebook tenha o mesmo destino que o Orkut, uma mídia social que, há pouco, era tão vital para o ser humano quanto respirar e, agora, parece um instrumento da Idade Média e tão morto quanto. Para não falar em outras como FotologmIRCICQ, MSN e MySpace, já literalmente mandadas para o espaço. Todas já foram a última palavra —e, hoje, os menores de 20 anos nem sabem que elas existiram. Por que o Facebook seria diferente?

Segundo os especialistas, morrem 8.000 usuários do Facebook por dia— espero que não por causa dele. Esses mortos conseguirão se comunicar entre si através do Facebook? E, se tal massa de defuntos continuar com seus perfis circulando na rede, como uma legião de ectoplasmas, o Facebook não estará se tornando um sítio mal assombrado, candidato a um urgente exorcismo?  

Bem, como disse, não entendo do assunto. A única coisa que posso garantir é que todos que hoje usam o Facebook estarão mortos em 2098.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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