Sábado de aflição que demorou a passar para Jair Bolsonaro e sua família

O depoimento do ex-ministro Sergio Moro à Polícia Federal, em Curitiba, durou nove horas. Quem acompanha com atenção o trabalho de Moro sabe da sua concisão para se expressar, por isso conta muito cada minuto do que ele fala. Este deve ter sido um sábado de aflição que demorou a passar para Jair Bolsonaro e sua família, numa aflição que certamente se estende a figuras importantes de seu governo.

Bem, piores dias virão para o bolsonarismo. Pelo que já se sabe, Moro confirmou as acusações da intromissão indevida do presidente na Política Federal, apresentando provas. Segundo o site O Antagonista, “além das mensagens de WhatsApp, ele apresentou emails e áudios de conversas — dele e de funcionários que autorizaram sua utilização”.

É evidente que durante sua permanência no Ministério da Justiça Moro procurou munir-se de documentação e qualquer outro tipo de comprovação. E ao contrário do que neófitos da política ou velhacos que nada aprenderam podem pensar, isso pode até ser oportunamente útil como prevenção política, mas em bons profissionais é nada mais que um hábito comum.

Claro que para alguém que foi juiz federal visado por criminosos de todas as esferas, documentar-se de todas as formas é algo natural. Moro deve ser o tipo de pessoa que guarda cuidadosamente até canhoto de recibo de lanche na padaria da esquina. Bem, no seu lugar eu estaria fazendo isso há décadas.

Duvido que ele não tenha muito bem documentado sua relação direta com o presidente Jair Bolsonaro. Desse modo, talvez ele possa também demonstrar a participação de figuras importantes da equipe de Bolsonaro com participação em manobras para forçar uma ingerência na PF, sendo obvio que esses figurões serão chamados a depor, dando continuidade à aflição de Bolsonaro e seus filhos e por enquanto sabe-se lá mais de quem.

Moro não fala por impulso e tampouco raciocina aos trancos, como faz Bolsonaro. Daí que pode-se avaliar que nove horas de conversa com seus antigos colegas devem ter rendido bastante. Sei como é difícil para a horda que ainda exalta este incapaz que por ora ocupa a presidência da República compreender que arrumaram um adversário difícil de derrubar, praticamente imune a contra-ataques completamente desonestos. Mas que se preparem, porque provavelmente além de ter muito a dizer, ele saberá fazê-lo no tom adequado.

E que os fanáticos que servem a este esquema de poder como idiotas úteis não pensem que Moro vai se apoquentar com a carga de insultos que corre pelas redes sociais. Com certeza um homem que botou Fernandinho Beira-Mar e Lula na cadeia não deixará de apoiar com tranquilidade a cabeça no travesseiro por causa de delinquentes menores sendo usados para espalhar fake news, criando bagunça e desinformação nas redes sociais.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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