Sensacionalista: engraçadalho pra carilho

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O humor a favor tem vários problemas. Um deles: é a favor. Outro: não é humor.

O Sensacionalista nasceu como cópia de vários “jornais” satíricos existentes no Primeiro Mundo, como The Onion (o mais famoso), o britânico Private Eye (o melhor), News Biscuit (“the news before it happens”) ou o auto-explicativo Uncofirmed Sources.

Infelizmente, ao invés de trilhar o caminho de um humor sardônico e imperdoável, o que exige uma inteligência acima da média, como o nosso Joselito Müller, o Sensacionalista retira o grotesco e fica só com o mamão com açúcar sem coragem e sem brilho do Charlie Hebdo.

O site aderiu de corpo, alma e Google Ads ao humor a favor. Não há nada de falta de mérito em ser um humorista de esquerda – Bill Maher, por exemplo, é socialista até o osso, e nenhum conservador ousaria dizer que ele não é engraçado, apesar de suas idéias ultrapassadas. O problema se agrava quando, além de um discurso perebento que se assemelha a uma assembléia de DCE, para se encontrar a tal da graça é preciso ser adesista e partidário até o último furúnculo.

Algo completamente diferente de quando Bill Maher, por exemplo, faz um breaking news sobre aborto: “E as religiões do mundo se uniram novamente contra sua maior inimiga: a vagina.” Não é necessário ser um comunista para achar isso, ao menos, engraçado.

O Sensacionalista entrou em campanha aberta, vermelho PT e estrelinha tatuada na nádega esquerda, contra o protesto do dia 13 de março pelo impeachment. Cada um com sua opinião – mas o site que se pretende de humor não tem mais a mínima graça.

Na imagem que postaram explicando por que não irão aderir, no momento com cerca de 71 mil curtidas e 27 mil compartilhamentos, fazem piadinhas nível Gregório Duvivier ou Fábio Porchat: piadas em que antes é preciso concordar com a opinião política dos autores (opinião esta sempre baseada no princípio “Não sou petista e nem socialista, mas só se pode gostar do que a União Soviética mandava gostar”) para então, ao invés de rir de fato, pensar: “Ufa, alguém escreveu frases de efeito que resumem o que penso de uma maneira um pouco torta, mas funcional. Vou compartilhar, para não ter de me explicar defendendo bandido, corrupto e totalitário boliviariano!”

Repare bem como qualquer pessoa que compartilha a imagem ou posta um “HAHAHAHAHAHAHA” nos comentários não riu de porcaria nenhuma: apenas concordou e usou como arma de propaganda.

Na imagem, falam em primeira pessoa do singular: “Não vou porque…” e elencam “razões”. A primeira: “Não perco The Voice Kids”. Essa é a mesma turma que garante que a Globo é golpista e que quem vai está obedecendo cegamente a Globo (que não comentou absolutamente nada sobre o protesto do domingo, como se ele não existisse e não estivesse sendo planejado – o exato oposto, no mau sentido, do News Biscuit).

Ou “Não aprendi a coreografia do impeachment”. Difícil é encontrar pessoas que querem o impeachment e levam a dancinha inventada a sério – mas, naturalmente, em todas as notícias encontráveis na internet sobre a manifestação, só se fala na única coisa ridícula que encontraram a respeito (black blocs? violência? defesa do indefensável? não, dancinha).

Prosseguem: “Domingo é dia de fazer amor”. Será que é válido para o domingo seguinte, com manifestação pró-Lula e PT? Será que essa turma DCE sabe mesmo o que é amor ou, ao menos, o que é uma vagina?

A próxima mostra o elitismo esquerda caviar: “Vai ter muita gente suada”. No post seguinte, é de se apostar que estarão chamando Aécio de mauricinho e tentando bancar os proletários. E nem pense novamente no domingo seguinte.

Adiante: “Preciso terminar a 4.ª temporada de House of Cards”. A série segue os passos de um político esquerdista corrupto que comete até mesmo dois assassinatos para galgar os degraus do poder. A ficção é mais importante do que a história, já ensinara Aristóteles: a poesia fala do que pode acontecer, enquanto a história só fala do que aconteceu, sendo mais restrita em seu escopo. Contudo, mesmo o protagonista Frank Underwood, após matar as versões fictícias e americanas de Celso Daniel e Toninho do PT, ainda não chega aos pés da bizarrice que se deslinda diante dos olhos de quem quer ver (o que exclui o Sensacionalista) no Brasil. E olha que Bill Clinton, do partido de Underwood, já afirmou que House of Cards é 99% real.

Essa esquerda já desistiu de esconder que é caviar.

Logo depois, “Os taxis são bandeira 2 no fim de semana”. Curioso: o protesto é tão gigantesco que é impossível usar táxis para ir ou voltar. Ou carros. Todo mundo vai de metrô. Em cidades menores, de ônibus. Porque é povão mesmo, exatamente ao contrário do que dizem. Ademais, se táxis são caros, esquerdistas poderiam finalmente se tocar e defender o Uber contra sindicatos cartelistas que se escoram no Partido da presidente.

A seguir, vem um “Eu iria se”, com novos itens.

Além de mais esquerdice caviar, modelo “caísse o sinal da TV a cabo e da internet” (estes petistas guris de apartamento!) e papo sobre “minha camisa da seleção estivesse limpa” (já afirmamos que está na hora de trocar a camiseta da seleção pelo PRETO), o melhor é o primeiro item: “Tivesse presunto de parma em vez de mortadela”.

Ué, o Sensacionalista esqueceu quem está criticando? Pensou apenas em “protesto” e já saiu metendo a metralhadora de clichês para fazer alguém “rir” (ou, como se viu, usar a imagem como arma por quem posta “kkkkkkkkkkkk” sem ter dado uma micro risadinha) como se um amontoado de clichês fosse inteligência e “humor”? Que tal terminar com um sambarilóve ou ié ié, sassi fufu pra alegria da petistosfera?

Quem gosta de mortadela é petista. Um dos gritos famosos dos protestos pelo impeachment é o “Eu vim de graça”, depois de denúncias com vídeos mostrarem que os protestos a favor do PT têm gente que recebe R$ 35 para vestir camiseta da CUT (essa pode, né? não tem corrupção nenhuma ao contrário da CBF, imagine) e achar que protesto da CUT é contra Dilma, o que saiu até em sites de esquerda. Outros, nem falam português. Usaram até veículos de hospitais públicos para transportar “manifestantes” – cadê a turma reclamando da merenda tucana que não deu um pio sobre isso? Apenas isto já é motivo o sobejante para mais do que um impeachment.

E ainda querem presunto de parma. Mas como anda Jardins-Leblon esse PT…

Sensacionalista

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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