Steve Bannon e a degradação moral de ser pego surrupiando dinheiro do muro da direita

A prisão de Steve Bannon nos Estados Unidos, junto com o motivo que o mandou para a cadeia com indiciamento por dois crimes graves, levam à desmoralização da chamada pós-verdade, com suas técnicas do engano, da mentira e da manipulação das multidões. Bannon é uma estrela internacional desse sistema de desinformação, tendo ganhado fama mundial depois de chefiar a campanha vitoriosa de Donald Trump, de quem foi conselheiro na Casa Branca, até ser demitido com um pouco menos de um ano no cargo. O marqueteiro foi solto sob fiança de 5 milhões de dólares, mas vai responder por crimes que podem levar a 40 anos de prisão.

O que ocorreu é fatal porque atinge conceitos essenciais do sucesso de Bannon. Além da derrocada moral com a prisão e o processo que virá com a acusação de corrupção, o fato arrasa com as pregações políticas de Bannon e de seus seguidores, que se apóiam em um nacionalismo tacanho para colocar os americanos contra os imigrantes.

Este foi um dos pontos essenciais na campanha criada por ele para Trump, focando principalmente em imigrantes mexicanos a culpa pelo desemprego e a degradação social entre os americanos. Encaixou-se na propaganda eleitoral até mesmo a promessa da construção de um muro na fronteira, separando os Estados Unidos do México.

Pois Bannon foi preso hoje exatamente sob a acusação de embolsar 1 milhão de dólares de uma campanha de doações para construir um trecho de muro entre EUA e México. Ou seja: passou a perna em americanos que contribuíram para algo que simboliza materialmente seu ideario. É até engraçada a lição moral: acreditando na ameaça externa, os direitistas americanos dormiam em casa com o inimigo.

Bannon é um promotor internacional do ódio e da desconfiança, fomentando o desprezo aos que vem de fora em busca de uma vida melhor, sejam imigrantes ou refugiados políticos. Porém, este rechaço é estimulado apenas contra os mais pobres.

O estrangeiro rico e poderoso é sempre muito bem-vindo, como aconteceu com o próprio Bannon, recebido no ano passado com honras na embaixada brasileira em Washington pelo governo de Jair Bolsonaro, com a presença do próprio presidente, que tinha ao lado seu guru brasileiro Olavo de Carvalho, que pelo menos até esta prisão era um admirador entusiasmado de Bannon.

Até surgir este caso de corrupção o ex-conselheiro de Trump vinha sendo um líder poderoso em um movimento de fortalecimento internacional da direita, comandando a criação de uma organização política com uma penetração muito forte na direita européia e que tem o deputado Eduardo Bolsonaro como representante na América do Sul.

O filho de Bolsonaro foi colocado pelo marqueteiro americano na liderança do esquema político em nosso continente. Esses acontecimentos complicam bastante o avanço desse movimento, que fica difícil tocar sob a liderança de uma estrela mundial acusada de corrupção exatamente em uma arrecadação de fundos para o muro que simboliza o que eles defendem com tanto orgulho.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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