Tarantino

Trabalho é considerado o mais comportado de Quentin Tarantino. “Jackie Brown” pode ser considerado o filme mais comportado de Quentin Tarantino. Isto não quer dizer, em absoluto, que a obra esteja desprovida dos toques “tarantinescos” que caracterizam sua carreira. Muito ao contrário! A transposição para as telas do envolvente romance homônimo de Elmore Leonard, realizada pelo próprio Tarantino, dá campo para os principais traços estilísticos do cineasta.

Há citações a rodo ao mundo do cinema, desde a narrativa na tradição de “Rashomon” (50), de Akira Kurosawa, no qual os fatos são apresentados sob vários pontos de vista, até menções diretas a filmes como “A Primeira Noite de um Homem”, “Era Uma Vez na América” e “Poderosa Afrodite”.

Os diálogos, sempre afiados, remetem por vezes a outros trabalhos de Tarantino, num exercício único na atualidade de auto-referência, ou a outras obras, por exemplo, do ator Samuel L. Jackson. A trilha sonora, compilada sempre a dedo pelo diretor, traduz à perfeição, como de hábito, seu caldeirão pop criativo, incluindo nomes como Supremes, Johnny Cash e Bobby Womack, entre outros.

E o cineasta sempre resgata atores da berlinda: se foi John Travolta em “Pulp Fiction” e David Carradine nos dois “Kill Bill”, aqui é o caso de Pam Grier e Robert Forster. E a presença de Grier no carismático papel-título é mais do que sintomática, já que o filme é, acima de tudo, uma homenagem ao gênero black dos anos 70, os “blaxploitation movies”, em especial “Foxy Brown” (74), que Pam estrelou no auge de sua carreira.

A fascinante relação central entre Jackie Brown e Max Cherry (Forster) responde pela construção dramática mais convencional em toda a obra de Tarantino, mesmo salpicada, por exemplo, pelas intervenções quase cômicas de Robert de Niro como Louis Gara.

Esta opção por um registro narrativo mais formal não diminui o filme em comparação aos outros do diretor. Só não há aquele ímpeto inquietante presente em “Pulp Fiction” ou “Kill Bill”.

Christian Petermannm

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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