os lenços às polacas
há horas que me faltas
e peço que, ainda ao pé da cama,
à gravura de Jesus-Maria-José
desfies teu terço,
e que a vela das almas que acendes
a sombra da tua fé
desenhe nos sarrafos das paredes

sentado no caixote de lenha
olhando as cinzas que brasas
também foram madeira,
sozinho e calado sorvo
o café que há tão pouco
passaste do pano ao bule
à caneca de folha esmaltada com flores
e, em azul, “saudade”

na folhinha com dias dos santos
é sábado, 20 de julho
há sete anos

procuro teu lenço,
mas faltam lenços às polacas
que, com as saias sobre as calças,
reclamavam: “zimno, mésmo”!
e iam a pé, na estrada-velha,
rezar na Capela da Matka Boska Bolesna,
na Colônia Thomaz Coelho

broa banha e sal já tenho,
pierogui na feira, dança no teatro,
casa de tronco, artesanato
– essas coisas de polonês –
mas do pouco polaco que penso,
falta sempre nas cabeças polacas
um lenço

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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