Tropa bolsonariana tropeça na saída

Bate-cabeças é comum no início de todo governo. Sobretudo em governo sem nenhuma prática administrativa, com falta de liderança e excesso de vontade de aparecer. Mas o que tem ocorrido nesta fase inicial da jornada Bolsonaro, começa a preocupar. Sobretudo porque o desastrado matraquear tem partido, em regra, do próprio presidente.

Se me permitem a intromissão, está na hora de alguém segurar a língua do capitão. Ele levanta pela manhã lá no Alvorada entusiasmado com o cargo e deita falação, que precisa ser desmentida, corrigida ou adaptada logo em seguida por ministros e porta-vozes subalternos. O homem precisa ser avisado que já não está mais em campanha, e sim na presidência do País e que qualquer coisa que diga tem repercussão imediata.

Anunciou que havia assinado a redução da alíquota do IR e o aumento do IOF, e tirou da cama assustado o Secretário da Receita Federal. Obrigou também o ministro da Casa Civil e porta-voz de plantão a um equilibrismo verbal para concluir que o presidente havia se equivocado, e a assinatura referia-se à prorrogação dos incentivos à Sudene e à Sudam – o que nada tem a ver uma coisa com a outra. O mesmo aconteceu com a anunciada mudança na reforma da previdência, com a redução das idades para a aposentadoria. E lá veio o gaúcho Onyx com nova prestidigitação interpretativa.

A anunciada mudança da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, exigida por lideranças evangélicas (!), passou a sofrer resistência dentro do próprio Palácio do Planalto. O ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, com o bom-senso que parece faltar aos paisanos governistas, acha a medida precipitada e não conveniente no momento. A conclusão coincide com o gentio cá da planície.

O mesmo acontece com a instalação de uma base militar norte-americana no Brasil. Bolsonaro, logo depois de ter sonhado com Trump, anunciou a iniciativa. Foi o que bastou para que milicada nacional se alvoroçasse. Na opinião de três generais e três oficiais superiores, ouvidos pelo Estadão, “a possibilidade de o governo do Brasil ceder espaço territorial para instalação no País de uma base militar dos Estados Unidos é desnecessária e inoportuna”.

Um dos chefes de tropa lembrou que acordos desse tipo só se justificam quando há risco de agressão externa fora da capacidade de reação e capaz de colocar em perigo a integridade da nação. “É o caso do menino fraco que chama o amigo forte para enfrentar os valentões da rua; estamos longe disso” – exemplificou.

E assim, aos trancos e barrancos, vai caminhando a caravana bolsonariana neste início de governo. Nem vou me referir aos tropeções diários da paranaense “Dilma…res” Alves, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, aquela do “menino veste azul e menina cor-de-rosa”, porque seria covardia. Cheia de ideias e de entusiasmo, língua incontrolável, a pobrezinha tem tudo para durar pouco na Explanada dos Ministérios. Há quem garanta que já subiu na frigideira… Outro no mesmo caminho é o chanceler Ernesto Araújo, aquele que pretende “despetizar o Itamaraty” e quando fala ninguém entende.

Põe ordem na tropa, excelência! E um cadeado na língua.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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