Turismo político

Ruy Castro – Folha de São Paulo

Diante da crise, que não poupa nem a libido, os motéis brasileiros estão tendo de inovar. Nada de oferecer aos casais, por exemplo, previsíveis réplicas de Versalhes, do Taj Mahal ou das Mil e Uma Noites. Em vez disso, alguns têm suítes em forma de quarto de hospital (com uma fantasia de enfermeira no armário), cabine de avião (idem, com a de aeromoça) ou sala de tortura (com capuzes, chicotes de veludo e maquininha de dar choque). Já um motel em Brasília, o Altana, inspirou uma de suas suítes na Operação Lava Jato.

Deu na Folha na semana passada. Antes de penetrar na suíte propriamente dita, o casal passa por um corredor com paredes revestidas de cimento, adornadas por recortes de jornais e fotos dos ex-presidentes Lula e Dilma, do ex-deputado Eduardo Cunha e de outras estrelas da operação. A cama é cercada por grades, como as celas que abrigam os hóspedes da Polícia Federal. A decoração visa a atender os que têm um fetiche por fazer sexo sentindo-se aprisionados.

Em breve será possível organizar excursões turísticas inspiradas na ação da Lava Jato. Uma das atrações, como sugeri aqui outro dia, seria uma ida ao posto de gasolina em Brasília, o Posto da Torre, onde nasceu a investigação.

Outra visita obrigatória, esta em São Paulo, seria ao famoso tríplex que não pertence a Lula, numa praia do Guarujá habitada pela elite que ele sabidamente odeia, e ao sítio que também não lhe pertence, em Atibaia. Como são propriedades particulares, o turista não poderá conhecê-las por dentro, mas a imprensa já as descreveu fartamente.

E, numa vinda ao Rio, no intervalo entre as subidas ao Pão de Açúcar e ao Corcovado, um programa favorito tem sido tirar selfies diante do prédio do ex-governador Sérgio Cabral e de sua mulher, Adriana Ancelmo, no Leblon. Todos os taxistas cariocas sabem onde fica.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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