Um governo duro de aguentar

© Myskiciewicz

É uma tarefa ingrata avaliar o governo de Jair Bolsonaro, pois erros muito primários geralmente não permitem análises aprofundadas. Claro que isso facilita para os bolsonaristas que ainda mantêm-se fiéis à missão de protetores desse sujeito sem noção. Fica tudo no preto e branco, o que desobriga de pensar. Mas o que temos não tem nada de estimulante para quem encara a política com seriedade. Governo muito ruim cria desânimo até para fazer oposição, mesmo porque é de uma insalubridade danada o debate com esta militância crente em qualquer bobagem que venha de cima, neste governismo chucro e deficiente de argumentos.

Bolsonaro é esse tipo que antes da reforma da Previdência sequer ter passado por comissões técnicas do Congresso já foi adiantando o que podia ser negociado para baixo na proposta de seu governo, até mesmo limites de idade. O que se faz com uma capacidade de expressão assim tão asnática? Nem dá para citar Maquiavel, muito menos Aristóteles. Na verdade, no assunto não cabe falar nem no Karnal.

O capitão que virou presidente é também o ativista que posta vídeo pornográfico para mostrar para ao povo brasileiro coisas feias que não devem ser feitas. Sorte nossa que o gajo não é contra a tortura, senão iria passar uns filminhos legais para ilustrar sua indignação. Mas com viagem marcada para um encontro em poucos dias com Donald Trump, sabe-se lá que links quentes que não vai pegar no tête-à-tête com o homem que ele mais admira no mundo.

O nível do grande líder é tão baixo que perto dele mesmo uma figura tosca como o general Mourão foi se agigantando. Com Bolsonaro como referência, Mourão passa até por intelectual, representa o equilíbrio e, dado o temor de que tudo vá à breca, depois de vestir o pijama o general linha-dura virou garantia de segurança até para a democracia.

Agora com os olavistas fora do governo a tendência é de maior perda do vigor do pensamento. Não se sabe como ficará o conteúdo ideológico e intelectual do governo. Kit-gay, terra plana, globalismo, KGB, canibais, pedofilia, Foro de São Paulo, birra com Georges Soros, feminazis, abortistas, birra também com Gramsci, extrema-imprensa, comunas, uma porção de assuntos essenciais na pauta ideológica de Bolsonaro podem ficar de fora do debate, com a discussão ficando restrita ao COF, o cursinho de filosofia que o professor Olavo de Carvalho ministra da distante Virgínia.

O problema é que a mensalidade é cara: 60 paus. E de vez em quando o mestre inconteste ainda pede uma graninha para pagar seus impostos atrasados. Eu, hein? Vou-me embora ser oposição em Pasárgada.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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