Um mártir para a pátria

Rogério Distéfano – O Insulto Diário

Em nota o PT classifica a condenação de Lula como “um dia trágico para a democracia no Brasil”.  De acordo; em gênero, número e propina. Mas uma tragédia não é algo que cai do céu, que vem do nada. Ela germina e um dia eclode. A condenação de Lula foi uma tragédia, para ele, sem dúvida, para o PT, igualmente. Porém uma tragédia maior para o Brasil: não pela condenação de um ex-presidente, ou pela anterior destituição da presidente – e até pela eventual reeleição do atual presidente, a morte anunciada para futuro próximo.

Tragédia para o Brasil porque a cada quatro anos se repete como praga do Egito, sempre resultado da insistência congênita das elites em manter o país a serviço de sua cupidez e de sua falta de patriotismo. A condenação de Lula não surgiu do nada, é efeito cumulativo de malfeitos, dele, dos que o antecederam e daqueles com quem ele se aliou. Lula jogou, como é o espelho de sua vida, apostando na imunidade, que não tinha, no seu halo de santidade, que é falso. Calhou de Lula ser colhido como exemplo.

O habeas corpus negado a Lula deveria ser negado a tantos aliados seus, hoje convenientemente refugiados no foro privilegiados e nas alianças de compadrio e autoproteção próprias de Brasília e elites adjacentes. Não foi uma tragédia; a condenação de Lula foi a exaltação da democracia no Brasil, uma epifania. Malgrado o dissabor que causa aos cegos, fanáticos ou utilitários, que dizem acreditar na santidade – e no calvário – de Lula. Se Lula foi sacrificado, não foi pelo Brasil, que cabem muitos outros em sua cela.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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