Um péssimo indício

Na semana finda o Congresso Nacional decidiu sobre o veto de Jair Bolsonaro ao reajuste dos vencimentos dos funcionários da União: o Senado derrubou o veto e a Câmara o manteve. Os deputados e senadores do Paraná votaram ou pela manutenção, ou pela derrubada do veto. Uma única exceção entre os paranaenses, o deputado Nei Leprevost absteve-se de votar. Ou seja, não aprovou nem rejeitou o veto.

O reajuste poderia comprometer o equilíbrio fiscal e replicar demanda idêntica em estados e municípios. Por que e como votar é prerrogativa parlamentar no sistema representativo. As prerrogativas protegem os interesses dos parlamentares: a oposição, para derrotar o governo, a situação, para ajudar o governo. Os parlamentares brasileiros sabem que devem contas ao governo e ao partido, não a quem os elege.

O eleitor atento acompanha a atuação dos parlamentares, dos que elegeu e dos demais. Ali idêntifica a visão política, o interesse pessoal, o comprometimento com os eleitores e o bem público – sobretudo o caráter, atributo de fracas nitidez e força nos homens de Estado. O eleitor atento, avis rara: o eleitor normal esquece em quem votou e, quando lembra, ignora como se comporta o candidato a quem autorizou representá-lo.

Como entender Nei Leprevost, candidato a prefeito de Curitiba, o único a se abster na votação? Sem dúvida que tem direito à abstenção. O eleitor atento diria de Leprevost: se vota contra o veto perde apoios dos governos federal e estadual; se vota a favor do veto perde votos entre os funcionários federais e dos funcionários municipais. O interesse do deputado-candidato falou mais forte. Nisso é igual aos outros. Mas é um péssimo indício.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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