Uma lagosta para Bukowski

Ninguém sabe como aquela lagosta apareceu. Os três tinham bebido muito na noite anterior. Fizeram a famosa via sacra por vários bares da cidade – que terminou no boteco onde o trio sempre entrava torto e pedindo para o conjunto musical tocar Summertime. Quando acordaram na casa de um deles, mais amarrotados do que pobre no trem da Central do Brasil, viram o embrulho em cima da mesa. Dentro do jornal que anunciava mais um crime bárbaro na cidade, o bicho, inteiro, pálido, se é que lagosta fica assim – mas aquela estava sem cor, pálida. Se entreolharam e um deles disse que sabia preparar. Às onze da manhã de um dia normal da semana, derrubaram algumas doses de cachaça, para rebater, e o crustáceo foi para a panela cercado de batatas e cebolas boiando em água com muito sal. Cervejas foram compradas, um litro de conhaque de alcatrão de São João da Barra  também. Tomaram tudo. A água secou, o bicho e os ingredientes torraram um pouco menos que o trio. Quase houve um incêndio na casa de madeira. Eles acordaram antes da tragédia e resolveram comer do jeito que estava. Um quase morreu engasgado. Dormiram de novo. No dia seguinte queriam ir a um restaurante para saber que gosto tem uma lagosta. Não foram por falta de numerário. Aquele era um tempo em que reverenciavam Henry Chinaski, famoso personagem e alter-ego de Charles Bukowski. Do blog Cabeça de Pedra

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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