Uma utopia tabajara

NÃO É só a zelite do desembargador que recusa a máscara do covid. Assim também a classe média, em todas as suas escalas. O pobre recusa do mesmo jeito, deve ser porque não respira pelo nariz. A zelite clama sua posição social, brande o carteiraço, liga para o conhecido que manda. A classe média lança o urro das trevas, agora no barulhento sotaque ignaro-bolsonaro. O pobre corre vestir a máscara, temor atávico do guarda da esquina.

Um avanço que desce do alto: a classe média transita para a arrogância da zelite. A ralé continua ralé, sempre o medo da autoridade. De comum a todos, cima a baixo, a radicalidade invencível da ignorância. A pobre avançará quando a polícia que o maltrata compreender que também é pobre, ainda que com o sonho legítimo de ser classe média ou zelite. Quem dera a pandemia esgarçasse o sonho do guarda da esquina, que o fizesse entender a que classe pertence.

A auto-consciência do pobre traria a melhoria do povo e das instituições? A resposta não pode ser otimista, a julgar pela história do Brasil, sempre na vanguarda do atraso, como disse FHC, presidente vanguardista, sobre seu antecessor José Sarney. Quando todos os brasileiros forem iguais, a ignorância pode ser igualitária. Uma utopia tabajara, todos igualmente arrogantes. O empate ideal entre ignorantes e arrogantes, o Brasil inteiro na goiabeira a prosear com Jesus.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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