Veja escolhe um lado arriscado na parceria do vazamento das mensagens da Lava Jato

Nesta atmosfera contaminada de partidarismo e interesses políticos indecentes que tomou conta do debate público no Brasil é um risco inclusive comercial para um veículo jornalístico quando seu posicionamento é visto como ligado diretamente a determinada corrente política. Certos sites existem para servir especificamente a um interesse político e a maioria dos que atuam com parcialidade foram criados exatamente para isso. Vivem de verbas direcionadas quando seus parceiros estão no poder ou de dinheiro vindo de fontes que nunca se sabe muito bem quais são.

Porém, já ficou demonstrado que veículos de história marcadamente jornalística não conseguem manter-se dessa forma. Ao perder o vínculo da credibilidade com o leitor, não foram poucos os que tiveram que fechar ou hoje em dia viraram publicações de menor prestígio. Já os veículos criados para servir a determinados grupos políticos, sempre acabam sofrendo a conseqüência da perda de poder de seus protetores. Dezenas de blogs e sites aliados dos petistas fecharam quase de imediato, com a saída do PT do poder. O vínculo com o leitor é a credibilidade, que pode ser aniquilada às vezes em poucas pautas que levantem suspeitas graves de parcialidade movida por interesse político ou até comprada. Nesta marca negativa, como eu já disse, existe também um risco comercial.

Uma publicação que entrou neste foco de descrédito é a Veja. A revista semanal já vem gradativamente demolindo a credibilidade construída anteriormente, quando desenvolveu uma linha editorial de investigação e denúncia dos desmandos e da roubalheira do PT no poder. Esta perda de prestígio piorou bastante com o lamentável desmonte financeiro da editora Abril, que publica a revista. E nos últimos meses a imagem de Veja descamba de um modo que demonstra um equívoco sério dos novos proprietários da empresa, já que num negócio desses a credibilidade só e um valor “imaterial” como conceito. Equivale também a dinheiro em caixa.

A imagem da Veja parece ainda mais comprometida agora, com sua entrada na parceria da publicação das mensagens trocadas entre integrantes da Operação Lava Jato, alem de diálogos com o ministro Sérgio Moro na época em que ele foi juiz. A revista entra na história quando já esta clara a articulação política que envolve o PT e seus puxadinhos como o Psol, para fortalecer uma narrativa de esquerda que tem sua origem na teoria do “golpe”, criada pelo partido do Lula durante o processo de impeachment que levou à cassação de Dilma Rousseff. O objetivo inicial da publicação pelo site The Intercept era a desestabilização do governo Bolsonaro. Queriam a demissão de Sérgio Moro. Como isso não se deu, continuam a exploração do assunto para lucrar com o que for possível.

A reportagem de Veja nada traz de novo, nem mesmo na tentativa de criação de um clima de ameaça sobre incriminações que nunca são reveladas. A reportagem embaralha o material, dispondo erradamente acontecimentos que não podem ter ligação entre si pela inexistência de coincidência de datas. Alguns nem eram da alçada do então juiz Moro. Acusações da revista a Moro em sua função de juiz já foram rebatidas por ele com fatos. Veja afirma ter analisado 649.551 mensagens supostamente roubadas à Lava Jato, o que coloca sua redação na situação delicada de ter o acesso a conversas privadas de jornalistas de veículos concorrentes e sabe-se lá de quais personalidades brasileiras. Não é possível avaliar como ética esta devassa em milhares de conversas particulares.

É incrível onde Veja foi parar. A revista está marcadamente posicionada em um lado político da acirrada divisão política atual, que compromete até mesmo a busca de uma saída para a crise econômica em que afunda o país. E ficaram de um lado que comprovadamente é restrito do ponto de vista político e ideológico, além de inegavelmente ter uma ampla e sólida rejeição entre os brasileiros. Muitos quebraram comercialmente com esta aliança, sem falar nos que acabaram na prisão. É estranho que numa empresa que precisa desesperadamente fugir da falência e que tem como principal ativo a credibilidade jornalística não haja a precaução contra esta entrada numa proposta furada.

O sintoma mais grave da situação altamente negativa de Veja é que nas últimas semanas a revista vem sendo tratada pelos parlamentares do PT como um veículo aliado, com deputados apontando suas reportagens como referência de que eles é que agem honestamente, enquanto a Lava Jato agiu de forma manipuladora e quebrou empresas. Veja foi apontada como publicação amiga por vários deles, em discursos agressivos na tribuna da Câmara e no Senado, além de citações altamente elogiosas em audiências onde, como sempre, os petistas passaram por cima da verdade, dos limites de respeito ao adversário e até da boa educação. O PT está numa relação apaixonante com a revista. É o chamado beijo da morte. Nunca existiu nada que não tenha sofrido pesada desmoralização com o apreço deste partido e com certeza Veja não será a primeira sobrevivente.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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