Veja-se!

Sügisball – Seis pessoas que vivem em um bairro desolado, na cidade de Tallin, Estônia, remanescente da extinta União Soviética. Cada um agarrado a sua própria existência solitária. A narrativa faz com que suas vidas comecem a se cruzar, porém, quanto mais se desenvolve, mais os personagens interagem, mais solitários vão ficando. É o final do outono e um difícil inverno virá pela frente, o futuro não parece trazer muitas esperanças.

Sügisball (traduzido como Baile de Outono) é repleto de traços de humor negro que faz lembrar o estilo do diretor finlandês Aki Kaurismäki. Mas aqui, cada golpe baixo que o diretor Veiko Ounpuu desfere contra os personagens parece ser remediado com uma forte mas singela veia de ironia. Um fluxo alternado de veneno de delicadeza, ainda que a segunda em doses menores.

Um obscuro baile de outono em que instintos são reprimidos e o egoísmo transborda. Quase uma ode à solidão. Uma ode visceral, incisiva e penetrantemente fria sem recorrer a uma interpretação miserável de lágrimas que escorrem por amores mal resolvidos e corações partidos.

O sofrimento é diretamente proporcional às relações que os personagens constroem entre eles mesmos a cada dia e as expectativas que inevitavelmente surgem. A empatia do filme é como a agulha de uma seringa que penetra na carne e contagia. Um filme em que a estrutura dramática se inicia com casualidades não naturais, mas dá espaço a um fluxo de emoções que tomam conta do espectador.

A trama é conduzida de forma rigorosa e esteticamente agradável, optando por uma  edição enfatizada pelos planos de seqüência e profundidade de campo, comum no cinema da europa oriental, o que deixa ainda mais pura a ironia. A trilha bem colocada e a fotografia cinzenta e pálida, mas não por isso ruim, completam o resto do trabalho, fazendo com que o espectador sinta a atmosfera proposta no filme.

Porém, alguns pontos devem ser evidenciados. O diretor não teve receio de colocar cenas de nu frontal, aparentemente sem razão de ser. A narrativa em certos momentos fica longa demais e focada em um só ponto. Esse excesso de tempo daria margem para o desenvolvimento de subplots para um melhor proveito da história.

No geral, Veiko Ounpuu convence com seu primeiro longa metragem que é uma boa introdução ao cinema da europa oriental, dando mostras que o jovem diretor tem talento para sair do isolamento báltico e se tornar um nome respeitado no cinema mundial.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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