Veja-se!

O Silêncio do Lago (Spoorloos|The Vanishing|George Sluizer, 1988). Qualquer coisa que mexa com esse lance de quebra de destino já faz com que me desperte uma certa curiosidade, já que é um negócio que eu sempre achei interessante, e esse aqui extrapola em todos os limites isso. O filme já destoaria de 99% de outros thrillers que tem por aí pelo simples fato da falta de dúvidas: o assassino já é revelado, o destino da vitima fica totalmente claro e a única coisa que nos resta é esperar um como aconteceu, e acompanhar o mergulho autodestrutivo por respostas de um personagem, e clareamentos sobre a personalidade sociopata de outro, o que só engrandece tudo, já que poupa qualquer perda de tempo em explorar qualquer clichê já exaustivamente explorado em coisas semelhantes. O cara que perde a esposa é interessante, toda a busca alucinada dele, a obceção por uma resposta dominando cada centimetro de músculo do corpo, a incapacidade de se vincular a qualquer coisa que não faça parte do mistério que tenta solucionar, ou distrair, nem que por um segundo, o pensamento sobre isso, é filmada de uma forma absurda, a sensação é que o tempo realmente passou de uma forma diferente pra ele: de uma forma rápida, como se nesses 3 anos não tivesse vivido outra coisa, e ao mesmo tempo sofreu toda a carga de tempo que o drama lhe causou nesse período. E o cara que faz o personagem ta demais. Mas não tem, 90% do filme é o sociopata filha da puta.

Não existe uma razão muito lógica pra ele fazer o que faz, a não ser o simples fato de fazer pq seria algo que ele não faria, seria como vencer a própria vontade e lucidez, como desviar a linha pré estabelicida da vida (que “inevitavelmente” já estava traçada) pra algo novo, destruindo o próprio destino e, consequentemente, o de outras pessoas. Não destruindo de forma literal, mas sim criando um inteiramente novo, como um cara que se forma na faculdade de medicina, já tem uma idéia bem clara do que lhe espera, e muda tudo esfaqueando uma pessoa qualquer na rua. Ele fugiu da vida que teria, venceu o medo dessa mudança, pelo simples conforto de se sentir dono do próprio destino. Evitar ou inevitável, ou algo do tipo. Enfim, é talvez o personagem mais interessante que eu vi no cinema, sem exagero.

E a forma que tudo é filmado é demais. Porra, aquela cena no inicio do tunel, ou o final (que é de uma crueldade absurda)… Bah, um dos melhores filmes do gênero, se não for o melhor.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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