Wilson Bueno, por inteiro

Em apenas uma palavra – Excelente! – a narrativa do jornalista, escritor e veterano resistente na luta contra a ditadura fardada dos anos 60/80 Luiz Manfredini sobre Wilson Bueno – uma das mais complexas figuras da vida curitibana. Manfredini não identifica o livro “A pulsão pela Escrita” (escrito em 2018, mas só lançado em 2020 pela Ipê Amarelo) como uma biografia “no sentido que lhe emprestam os historiadores, como disciplina científica, submetida a rígidos protocolos metodológicos”. Tampouco o define como romance ou jornalismo. Prefere considera-lo uma panorâmica sobre a vida e a obra de Wilson Bueno, que nos deixou de maneira trágica e lamentável no domingo à noite, 30 de maio de 2010, no escritório do sobrado em que vivia, na Vila Tingui.

Não obstante, Manfredini, que fora amigo e companheiro de infância e juventude de Bueno, traça um retrato fiel, completo e contundente do escritor, poeta e jornalista que habitou esta vida durante 61 anos, suas idas e vindas, seus sonhos e pesadelos, sua compulsiva criatividade, sua imensa solidão e seu desvario estimulado pelo excesso de álcool e pelas drogas.

A narrativa não segue o padrão linear, no que faz muito bem. Com o talento habitual, Luiz Manfredini circula pela trajetória de WB, dá voltas em torno do personagem, sem perder o fio da meada e o objetivo almejado.

Não pretendo resenhar aqui “A Pulsão pela Escrita”, já definido como excelente trabalho, mas recomendá-lo a todos aqueles que apreciam uma boa leitura e desejam conhecer (ou reviver) tempos idos desta Vila de N.S. da Luz dos Pinhais, com suas contradições e sua efervescência, em meados do século passado. Deles emergiu um rapazote vindo da velha Jaguapitã para conquistar o mundo – o que, de certo modo, conseguiu ao ser publicado fora do país e ao editar “Nicolau”, jornal bancado pelo Governo do Paraná, por onde desfilou a mais significativa inteligência brasileira e foi eleito a melhor publicação cultural da América Latina e uma das mais importantes do mundo.

Eu teria apenas uma correção de informação a fazer. Wilson Bueno não foi editor desde logo de “Curitiba Shopping”, jornal de serviços fundado em 1979 por Luiz Renato Ribas, Bayard Osna e por mim, que criei o nome, o logotipo e fui o coordenador de texto e diagramador nos primeiros números e durante algum tempo. Bueno nos foi trazido por Aramis Millarch, com uma recomendação: “Não o deixem beber; se beber, ele revela a sua homossexualidade”. Wilson passou a fazer parte da redação, junto com Enéas Faria e todos nós. Reynaldo Jardim, tido erroneamente, como pai da publicação, chegou muito tempo depois. Nessa época de Jardim, quando já havíamos deixado o jornal, é possível que Wilson Bueno tenha sido o editor-chefe.

Acabei fazendo a correção, mas ela não tem a menor importância e sequer deveria ter sido feita, porque em nada altera a caminhada de Bueno, descrita com riqueza de fatos e detalhes por Manfredini.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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