Zé da Silva

todos enforcados. eu vi com esses olhos que os vermes hão de comer. pendurados no arame. pescoços esticados. ficaram ali junto a uma parede por mais de um dia. eu passava, olhava – e não entendia. pensava: se era uma festa de casamento, pra que isso? vi o velho fazendo o serviço sozinho. acho que ele tinha mais de oitenta anos. mas quanta disposição… não falava uma só palavra em português. cada um que ele enforcava lhe dava prazer. o brilho nos olhos e o sorriso diziam isso. como fazia sempre, depois disso ele foi relaxar no ofurô no meio do quintal. não se importava de andar nu por ali, apesar de haver outras casas e pessoas no mesmo terreno. ficava um tempão  imerso na água quente. às vezes cantava. em japonês. naquele dia cantarolou mais. era o filho que estava para casar. e os frangos enforcados ali perto dariam o que comer.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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