Zé da Silva

Meu ódio será sua herança. Cabeças cortadas. Sangue e areia. Sob o domínio do medo. Macunaíma. Matar ou correr. O vendedor de Linguiça. Roubei a telona do Cine Dom Bosco, meu pulgueiro favorito – e fiz dela vários lençóis. Achava que os filmes ali impregnados iriam me transformar em algo especial, inclusive sabendo voar como National Kid ou pilotando a Harley do inspetor Carlos de O Vigilante Rodoviário – com o Lobo na garupa. Um dia acordei cantando Cucurucucu Paloma, na voz de Miguel Aceves Mejia, e minha mãe chamou o benzedor da vila para tentar tirar aquilo do meu corpo. Saiu depois que o esculápio pendurou no meu pescoço caiu sem eu notar, pois o barbante apodreceu com o tempo. Cinema é mais que transcendental, mas comecei a me afastar depois que vi uma inundação de filmes brasileiros com artistas da Globo. Nada se assemelhava a “Ó, Rebuceteio”, e Aldine Muller já não aparecia mais. Tirei então do baú a coleção de livros de Adelaide Carraro e espero um patrocínio para filmar “Eu e o Governador” com meu celular que é do tempo da válvula. Alguma coisa acontece em meu coração, sim, mas o doutor disse é o problema é mais em cima.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em roberto josé da silva e marcada com a tag , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.