Zé da Silva

Foi por causa dos raios de luz furando a persiana e sendo invadidos por partículas de poeira em suspensão. Li em romances policiais, vi em alguns filmes, procurei em muitos lugares até encontrar a sala ideal para isso. Um colchão no chão do quarto e um sofá velho no espaço da luz me bastavam. A hora certa para o meu prazer solitário era depois das cinco da tarde, aquela que os bons fotógrafos exploram. Ficava ali extasiado como se um novo milagre de Fátima estivesse acontecendo. Esticado no sofá de curvim verde musgo, às vezes me levantava e colocava a ponta do dedo indicador na facho daqueles. Até aquele dia. Quando os raios já estavam esmaecendo, surgiram dois olhos e uma sombra. Bela Lugosi como Drácula. O tiro foi certeiro. No meio da testa. Guardei o Colt. Coloquei a mochila nas costas e parti. Não há paz na Terra.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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