Zé da Silva

Liguem as turbinas pois quero ser sugado, triturado, espalhado no asfalto quente e pisado pela multidão de miseráveis – para pagar meus pecados. Eu não os conheço, mas a penitência sim. Ela sempre vem amplificada como se todos os padres do mundo a recitassem em equipamentos de som de bandas de rock pauleira. Sim, eles falariam tudo juntos, em coro, com vozes guturais, para tirar das próprias almas os pecados mais escondidos.

Pagarei e, antes direi, como aprendi olhando as freiras de pele alva e só com o rosto à mostra: “Minha culpa! Minha culpa! Minha máxima culpa!” Liguem todas as turbinas do mundo e também os moedores elétricos de carne e alma. Não quero que poupem meu coração porque a curva do rio é sagrada demais para mim. Asfalto. Fervendo. Pisem com fé e não acreditem nos que dizem que, nesse gesto, serão possuídos pelo demônio que brota do que me restou – eu, o pecador.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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