Zé da Silva

Sabia que algo ia me acontecer assim que dobrasse a esquina das ruas escuras. Uma garoa forte molhava as pedras da calçada. Foram elas que me avisaram. Não parei. Quando entrei na rua do crime… Um sol quase me cegou. Ele iluminava diretamente uma árvore cujo desenho da copa era o do cabelo de uma mulher do século XVIII numa corte europeia. Parei e fiquei emocionado.

Era o mal dos meus pensamentos sendo varrido pelo bem da realidade. Era a fantasia do medo tenebroso do que pode acontecer sendo engolido pela sensação do que é normal, do que está aí, da vida, enfim. Parei e a garoa apertou. Me senti como uma plantação banhada pela energia vinda do céu.

Minhas raízes beberam o elixir mais sublime do planeta Terra: água, divina, benta, pura. Mais tarde, ao me esticar na cama, apaguei as luzes e fiquei olhando na direção do teto. Vi tudo de novo. Por dentro. E dormi feito anjo a me proteger.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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