Zé da Silva

A mosca estava na sopa. Não tem outra explicação. Sem vergonha eu era. Comia buchada de bode no café da manhã. Jaca mole era sobremesa no almoço e jantar. Vegano agora sou. Dizem que envergano, pois voltei aos tempos de adolescente e fiquei como uma vírgula, de tão magro. Quarenta quilos se foram em uma semana. Não me perguntem como. Acho que era excesso de tudo.

Claro que fiquei feliz. Magrinho, o tal de órgão pareceu maior. Quase uma estrovenga Jorgeamadiana. Aí, aconteceu. Na sopa que fiz, seguindo todas as orientações que procurei no gugol. Meio aguada estava, mas na segunda colherada senti que algo desceu pela goela – e não estava no padrão. No dia seguinte acordei e fui me pesar, como faço diariamente na nova etapa da vida, mais com medo de desaparecer do que outra coisa. O horror! Ganhei todos os quilos perdidos e outros mais.

Olhei no espelho. A coisa sumiu. Me vi mulher. Foi a mosca! E ela não pousou. Ela mergulhou. Foi suicídio. Por que a desgraçada não tentou fazer terapia. Se quisesse, eu indicava o meu psiquiatra.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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