“Truco, caboco véio!”

O filho acabou de passar no vestibular, o sogro tem dia marcado para o churrasco com os velhos amigos e o marido joga cartas com a turma do clube? Então, se a senhora permite, tenho uma sugestão para presente de Natal: O livro do truco. Uma obra rara para o filho que vai passar quatros anos trucando na faculdade, o sogro que é do baralho e o marido que é um gato (4 de paus).

Ernani Buchmann

é o autor dessa enciclopédia do farsante. Mas no bom sentido. Diz no dicionário que “trucco”, do italiano, significa disfarce, máscara, maquiagem, truque, artimanha, expediente, fraude, engano. Palavras apropriadas para esse ardiloso jogo de cartas que causa tantos entreveros quanto a sua verdadeira origem.

Quem conhece Ernani Buchmann apenas de seus livros afirma que essa jogatina nasceu de sua fértil imaginação. Outros apostam que o

truco já era conhecido dos antigos etruscos, que jogavam com as cartas entalhadas na madeira.

Só não pergunte da origem para os gaúchos. Por supuesto, eles vão dizer que o truco nasceu em Passo Fundo. Erraram por pouco, tchê! A origem mais documentada está em língua espanhola, e até o escritor argentino Jorge Luiz Borges já carteou sobre o assunto:
“Quarenta cartas querem deslocar a vida. Nas mãos range o maço novo ou se trava o velho: miscelâneas de papelão que se animarão, um ás de espadas que será tão onipotente como Dom Juan Manuel, valetes pançudos dos quais Velásquez copiou o seu”.

***


No jogo de truco e no Livro do truco – até letra de música não falta. Como o causo desta
“Última trucada”:

Tava numa mesa de bar / Eu e mais três companheiros / Se quisesse eu bem sabia / Eram eles maçaroqueiros
Nós ia puxando tento / Tava valendo dinheiro / A sorte tava comigo / Comigo e com meu parceiro
Três de paus, sete de copas / Fui dando pro companheiro / Pra mim caiu espadilha / E o cabra ficou por conta
Ele puxou do seu revólver / Eu puxei do meu primeiro / Dei três tiros no malvado / Fui dez anos prisioneiro
Agora sou assassino / E me chamam de desordeiro / Foi minha última trucada / juro por meu padroeiro

***

Quando Ernani Buchman abre suas cartas na mesa, não tenha dúvida: vêm boas risadas. Conta ele, por exemplo, a história do falecido Gulhobel Camargo, que não era homem de dúvidas:

Em certo torneio arrebanhou Carlinhos Anaconda como parceiro. Chegaram aos 11 pontos na negra. Refugaram algumas vezes, por conta das deficiências das cartas, quando Guilhobel considerou a possibilidade de mandar o jogo. Carlinhos não tinha a mesma certeza:

— Acho melhor não, seu Guilhobel.

— É bom jogo. Vamos mandar.

— Seu Guilhobel, é pouca carta.

— Pouca nada. Corre o jogo.

Carlinhos tinha razão, perderam a partida. Sem ação na mesa, ambos sentados, Guilhobel atacou o parceiro:

— A culpa é sua. Se tivesse insistido mais um pouco eu teria desistido.

***

Em Curitiba truco é cultura, ou não teria academia (Atruc) e até hino com esses versos:

E não me venhas de facão / Que eu grito seis, caboco véio / E não dê sinal de gato / Não apele, não embuche / Que este jogo é sério…

O jogo é tão sério que O livro do truco será lançado na noite desta
segunda-feira, no Restaurante Beto Batata do Alto da Rua XV (Rua Professor Brandão, 678), a partir das 19 horas. Custa R$ 15,00 o exemplar e pode ser adquirido também pelo e-mail luannali@hotmail.com.

Dante Mendonça [09/12/2007]O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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