O mercado de garotas de programa só cresce. Muita gente acha estranho devido aos “avanços” nos costumes sexuais. Não acredito nesses “avanços”, apesar de que está na moda dizer que hoje todo mundo transa com todo mundo e que está tudo muito legal.
Acho que a atividade sexual “não remunerada” deve estar decrescendo na humanidade, se contarmos do Alto Paleolítico pra cá.
Duvido mesmo de que haja qualquer mudança na sexualidade dos mais jovens (voltarei a esse tema em seguida). Acho, sim, que há um novo mercado “psi” que fala disso o tempo todo, inclusive, gerando fantasmas, que a mídia alimenta e reproduz como “pauta”.
O próprio fato de que o mercado das garotas de programa só cresce é, de alguma forma, prova de que uma insistente ancestralidade permanece no fundo desse rio de modinhas que encanta esse mundinho de ricos e entediados.
Outro dia, uma aluna, assustada, perguntava pra mim como era possível que ainda existissem garotas de programa, mesmo depois da emancipação feminina e da conclusão, que se tira normalmente (e que julgo equivocada), de que as mulheres “ficaram mais livres e, por isso mesmo, o sexo ficou mais fácil e satisfatório”. E pior: o mercado só cresce!
Que horror nos olhos dela, coitada! Exemplo claro de uma juventude pouco informada que tem sido, sistematicamente, enganada por seus professores pastores de Marx, Foucault e Jesus. Ela teria lido algo numa revista sobre isso, talvez de fora do Brasil. Ao ouvi-la, lembro da reportagem que a revista inglesa “The Economist” fez alguns poucos anos atrás sobre o crescimento desse mercado, inclusive, defendendo que o PIB do Reino Unido passasse a somar o mercado de garotas de programa.
Uma das razões para o crescimento seria apenas tecnológico, devido à “uberização” do mercado das meninas. Com as redes sociais, elas se tornaram livres dos intermediários. Podemos dizer, com todo respeito, é claro: “Graças a Deus” que as meninas estão ficando livres desses atravessadores violentos.
Mas, e esta era a razão do horror da jovem em questão, uma das causas para o crescimento seria, justamente, a emancipação feminina. Como pode uma coisa dessas ser verdade?
Por que a emancipação feminina tornou a garota de programa mais desejável? Se pensarmos que uma mulher emancipada é uma maravilha, já que “ela se paga”, por qual razão dos céus alguém pode imaginar uma maior procura pelo sexo profissional justamente depois que as mulheres ficaram mais “fáceis”?
Simples responder: aumentou a cobrança. A garota de programa só pede mil reais. Uma mulher pede tudo. Homens sempre tiveram medo das mulheres e, agora, com as meninas superpoderosas à solta, ficou pior. A garota de programa é a mulher mais confiável que existe. Homens odeiam cobrança feminina, e as meninas adoram cobrar o caras. Emancipadas, as mulheres se tornaram verdadeiros dragões de cobrança. Mulher emancipada estressa todo mundo. A garota de programa acalma todo mundo.
Quando uma mulher deixa de “custar” só dinheiro, ela passa a custar muito mais caro. Por isso, eu disse à minha querida aluna: é que a emancipação feminina estimula o mercado do sexo. E mais: no mercado do sexo só corre dinheiro, e dinheiro é a coisa mais honesta, sincera e reta do mundo. Por isso ele dá tanta raiva.
Mas, voltando à suposta mudança na vida sexual dos mais jovens. Se há alguma mudança de fato, é um maior “encaretamento” dos jovens. Nunca houve uma geração mais careta do que esta, de Y a Z. Confunde-se perder a virgindade com deixar de ser careta. Confunde-se beijar alguém do mesmo sexo com deixar de ser careta. Os jovens de hoje são um poço de moralismo, por isso se levam tão a sério.
As meninas do passado davam lição de safadeza pra essas meninas descoladinhas de hoje. Podiam casar virgens (será?), mas davam tudo que tinham antes, generosamente e sem medo…
Com tanta gente jovem careta querendo sexo saudável sem sangue, só uma garota de programa mesmo pra tocar o fundo de nossos corações solitários sedentos de alguma sinceridade no mundo.
Luiz Felipe Pondé, escritor, filósofo e ensaísta, é doutor em Filosofia pela USP e professor do Departamento de Teologia da PUC-SP e da Faculdade de Comunicação da Faap.
Luiz Felipe Pondé – Gazeta do Povo