O senador licenciado e ministro Romero Jucá (PMDB-RO) conversa com o presidente do Senado Renan Calheiros, durante sessao do impeachment da presidente Dilma Rousseff. ©Eduardo Enizelli
Em uma das conversas com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o então senador Romero Jucá (PMDB-RR) afirma que “caiu a ficha” de líderes do PSDB sobre o potencial de danos que a Operação Lava Jato pode causar em vários partidos.
“Todo mundo na bandeja para ser comido”, diz Jucá.
Sérgio Machado, que foi do PSDB antes de se filiar ao PMDB, afirma que “o primeiro a ser comido vai ser o Aécio [Neves (PSDB-MG)”, e acrescenta: “O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, porra. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…”.
“É, a gente viveu tudo”, completa Jucá, sem avançar nos detalhes.
Machado tenta refrescar a memória de Jucá: “O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele [Aécio] ser presidente da Câmara?” Não houve resposta de Jucá. Aécio presidiu a Câmara dos Deputados entre 2001 e 2002.
Machado diz que a “situação é grave” porque “eles”, em referência à força tarefa da Lava Jato, “querem pegar todo mundo”.
Jucá concorda, ironizando o plano. “Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura”, afirma.
O atual ministro do Planejamento também confidenciou a Machado as dificuldades que o PMDB vinha enfrentando para “a solução Michel”, que seria a posse do vice-presidente no lugar de Dilma Rousseff. O único empecilho, disse Jucá, era o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
“Só Renan que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha. O Eduardo Cunha está morto, porra”, afirma Jucá no diálogo, que foi gravado.
“O Renan reage à solução do Michel. Porra, o Michel, é uma solução que a gente pode, antes de resolver, negociar como é que vai ser. ‘Michel, vem cá, é isso e isso, isso, vai ser assim, as reformas são essas'”, disse Jucá ao ex-presidente da Transpetro.
‘VOADOR’
O senador disse que Machado deveria alertar Renan porque o colega senador seria “voador”, ou seja, alguém bastante distraído. Machado concordou:
“O Renan é totalmente ‘voador’. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele [Renan]. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor para ele. Ele não compreendeu isso não”.
Jucá então completa: “Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem”.
O senador também afirmou a Machado que havia conversado com “generais”, os “comandantes militares”, e que eles haviam dado “garantias” ao PMDB a respeito da transição e estavam “monitorando” o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Após o diálogo entre os peemedebistas, Dilma acabou sendo afastada do cargo devido à abertura do processo de impeachment. As investigações da Lava Jato levaram o STF a afastar Eduardo Cunha da Câmara. (RV)
OUTRO LADO
A assessoria de Aécio Neves (PSDB-MG) afirma que ele “desconhece e estranha os termos dessa conversa”. “Ele foi eleito presidente da Câmara em 2001 por maioria absoluta dos votos em uma disputa que contou com outros nove candidatos, tendo sido essa eleição amplamente acompanhada pela imprensa”.
A assessoria de Renan Calheiros (PMDB-AL) não foi localizado pela Folha.