Tempo de desalento e fúria

Dias desses, eu quis tirar o time de campo. Encaminhei uma mensagem ao mestre Zé Beto argumentando não entender mais este mundo e muito menos este nosso país. De repente, mocinho virou bandido e bandido, mocinho. Aqui, mesmo em meio a uma brutal pandemia, só se pensa em levar vantagem, enganar o próximo. Não há mais inocentes. Os especuladores estão em plena ação; os destruidores da floresta, os invasores de terras indígenas e a garimpagem ilegal e predadora contam com o apoio governamental. E eu me sinto um idiota, sustentando os meus conceitos e princípios ultrapassados. Afirmei que já havia dito (e até repetido) tudo o que achava necessário dizer. Por isso, chegara a hora de parar.

Reiterei que hoje reina o ódio no Brasil, irmão contra irmão, amigo contra amigo. Não há mais espaço para discussão civilizada, troca de ideias, manifestação de opinião. Perto de me tornar octogenário, conclui que o meu tempo já passou. Não me é dado mais o direito de ser ingênuo, iludir-me e ter a esperança de dias melhores – a não ser, talvez, daqui a uns cem anos.

Como exemplo, citei a Operação Lava-Jato. Subitamente, virou maldita. Não obstante, para mim continua sendo a coisa mais importante que aconteceu no país nos últimos tempos. Nunca, em tempo algum, bandidos de carteirinha, notórios e tradicionais larápios do erário, como a família Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS, Andrade Gutierrez, Lula, Sérgio Cabral e que tais foram tirados de circulação e recolhidos ao xadrez. Sem falar dos bilhões de reais restituídos aos cofres públicos pela ação da Lava-Jato e do juiz Moro. Ah, mas foi a Lava-Jato que elegeu o Bolsonaro… Não foi. Quem elegeu o capitão foi Lula e seus asseclas e a imbecilidade do eleitor brasileiro.

Houve excesso no procedimento. Talvez, mas não lhe ofuscou o brilho. Os procuradores Dallagnol, Santos Lima, Pozzobon e os demais integrantes da força-tarefa em Curitiba agiram em consonância com o juiz Sérgio Moro? Ótimo. Na defesa do patrimônio público, são aliados. O Ministério Público não é parte; é uma instituição, assim como o Judiciário. E na luta contra o Mal, os do Bem devem unir-se. Ou alguém ainda acha que os Odebrecht, Lula, Sérgio Cabral, Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Eike Batista, Nestor Cerveró, Antônio Palocci, Eduardo Cunha e João Vacari Neto, entre outros, são inocentes injustiçados? Só aquela triste banda de beca autodenominada Grupo Prerrogativas, notórios petistas e defensores de Lula, Dilma, Temer, Sarney, Aécio e Serra. Aliás, o denunciado “conluio” precisaria incluir também os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e ministros do STJ e do STF (Teori Zavascki e Edson Fachin).

Quem pensa assim, não tem mais lugar no pedaço. Além do que, por não ser fascista, corre o risco de ter o seu nome arrolado no dossiê preparado pelo atual Ministério da Justiça para ser entregue ao império norte-americano.

Zé Beto não aceitou o meu pleito. Ainda que concorde com os meus argumentos, afirma que eu preciso continuar expondo o meu pensamento em meio a essa balbúrdia incompreensível que é o Brasil hoje. Diz que a escrita sustenta a nossa alma. E, citando Nelson Rodrigues, “um pouco de clareza para olhar em volta a gente tem”. Em seguida, sublinha: “Você me apresentou o seu mestre Rubem Alves e eu vou apresentando ele e você a quem nos lê. Se faz sentido a eles ou não, aí já não posso dizer, mas sei que estamos cumprindo uma missão”.

Que assim seja, meu querido ZB. Cumpramos a nossa (ingrata) missão e vejamos até onde podemos ir. Eu comecei com quinze leitores, desde os tempos do extinto O Estado do Paraná, de Mussa José Assis. Era o conhecido “Grupo dos 15”, assim nominado pelo Mário Montanha Teixeira Filho. Depois, os quinze foram reduzidos a nove; hoje, tenho dois ou três que ainda me leem. Que concordam comigo, nem tantos.

A coluna continuará, possivelmente sem a regularidade tradicional. Às vezes, sairá do ar. Para o descanso de todos. Especialmente deste que aqui digita. Ter consciência (e raciocinar) no atual Brasil é doloroso.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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