Torço por Barack Obama. Aliás, estamos todos torcendo por ele. E não só pela cor da epiderme de Mr. President, mas também por ela. Devemos a George W. Bush essa unanimidade internacional. Pior do que ele ninguém poderá ser, não obstante a experiência brasileira nos indicar que sempre poderá. Mas apenas romper com a trágica era Bush também não significa grande coisa.
A prometida mudança de rumo e a “audácia de ter esperança” não podem ficar apenas na retórica eleitoral. E, por enquanto, as mudanças foram apenas de expectativa. Só a fé não remove montanhas, mas já é um bom começo.
O avanço foi inegável e alvissareiro. Há 50 anos, ainda se discutia, na sede da grande democracia mundial, se negros tinham alma. Há 20 anos, a nação não se sentiu preparada para receber o comando do pastor Jesse Jackson. Agora, resolveu colocar um afro-americano (mulato ou mestiço, vá lá) na Casa Branca. Ótimo, formidável! É chegada a hora de mudanças. Que seja Barack Obama o encarregado de realizá-las.
O capitalismo, no modo opressor e desumano que conhecemos, agoniza, consumido por si mesmo. Os Estados Unidos vivem a pior crise econômica de sua história desde 1930, e o mundo vai a reboque. Estará Obama preparado para enfrentá-la? Quanto tempo durará a lua-de-mel do eleitor americano com a novidade das urnas e a promessa representada pelo jovem advogado de Chicago, egresso de
Harvard?Seja como for, a verdade é que a alegria e o otimismo com a vitória de Barack são justificados. Enfim, os americanos do norte poderão voltar a sentir orgulho de serem americanos e a deixar de ter vergonha de seu país. No mais, esperemos janeiro chegar.
Aqui abaixo da linha do equador já tivemos algumas experiências com salvadores da pátria. Um deles, no primeiro dia de poder, confiscou a poupança da população e deu no que deu. Outro, ainda está lá em Brasília. Muita encenação, muito papo furado, muito passeio pelo planeta e, sobretudo, muito deslumbramento com o bastão de comando. Um ilusionista. Mas o povo está satisfeito com ele, acha-o uma gracinha, adora as suas covinhas, até gostaria que ele ficasse mais tempo no serrado brasiliense. Se falta saúde pública, vagas nas escolas, segurança pública, emprego e esperança, ele não tem nada com isso. Aliás, nem sabe disso. Deve ser coisa dos marcianos. Não é o povo que tem o governo que merece?
Ei-lo aí. Que os cidadãos de Tio Sam tenham mais sorte.
De minha parte, embora isso não tenha a menor importância, confesso não ter grandes ilusões. Apenas muita curiosidade. O que fará Barack Obama em relação à fracassada invasão do Iraque e do Afeganistão? E quanto ao Irã, a Israel, à China, à nova Rússia, à América Latina, ao protecionismo norte-americano, à imigração ilegal, ao embargo a Cuba, à poluição ambiental, aos biocombustíveis, às ameaças terroristas e aos desmandos do Pentágono, da CIA, da NSA e entidades que tais?
O sociólogo alemão Robert Kurz, em recente artigo para a Folha de S.Paulo, ressaltou que, como os Estados Unidos são a derradeira potência mundial do capital, Obama talvez seja o último messias político. Mas relembrou o ensinamento de “outra constelação histórica” a “Internacional”: “Um ser mais elevado não nos salva, nenhum césar ou tribuno; para nos salvar da miséria, isso nós mesmos temos que fazer”.
Basta que os Estados Unidos parem de atrapalhar.