Foto sem crédito.

Que me perdoem os septuagenários, os octogenários ou mesmo os nonagenários, mas arredondar 60 anos, como aconteceu, semana passada, com este vosso croniqueiro, é assustador. Embora o ruidoso carinho dos amigos (tantas as flores, que encheram literalmente a pequena sala do Palacete do Tico-Tico!), isso exalta mas não consola. Tornar-se sexagenário chega a ser exótico. Vida e idade parecem não combinar…

Glosam e gozam os mais íntimos que nem tudo está perdido – já posso reservar assento em ônibus interestadual, “de grátis”, além, claro, do livre acesso à “fila de idosos” (ôpa!) dos bancos e dos supermercados. Melhor ter 20 anos e surfar na Joaquina, em Floripa, e voltar a pé com a prancha nas costas. Sem pedir carona…

Arnaldo Jabor tem um depoimento antológico sobre os 60 anos. Diz, entre outras, que embora os mais de vinte de psicanálise, tremeu nas bases quando a famigerada idade chegou. Foi, segundo ele, quase uma tragédia íntima.

Comigo é só um estranhamento, não tanto “al mare” como com o autor de “Toda nudez será castigada”, alto estrelato de minha amiga Darlene Glória que, aliás, já emplacou também, e faz tempo, – quem diria? -, os sessentinha. Mais evangélica do que nunca, claro.

O espanto se deve a que somos, ao menos Darlene e eu, sobreviventes. Eu, 60; ela, pasmem!, 66.

Sim, meus jovens, era para termos morrido de susto, de bala ou vício, mais de vício do que de bala ou susto, nos incendiários anos 70s. Sobrevivemos, né mesmo Toninho Vaz? Como? Perguntem ao pó…

Melhor apascentado com minha “sexygenariedade”, sou mais a Dercy Gonçalves que, sabemos, morreu com 103. Dizia que só chamava de “senhor” quem ultrapassasse a idade dela. Como não havia ninguém, chamava todo mundo de “você” e que fossem todos tomar naquele não tão secreto lugar. Sepultada em pé lá em Madalena…

Melhor do que virar cinza, na cerimônia da “queimação”, como dizia minha mãe.

E não adiantava corrigir para “cremação”. Insistia que era “queimação” e pronto. Foi-se desta pra uma certamente melhor, nos seus gloriosos 80. Embora, a meu exemplo, com horror a aniversários – mesmo quando aos 29.

Me conta o Solda que, entre os orientais, depois de alcançar certa idade, o que o compadre Almir Feijó chama de “linha branca”, podemos nos tornar totalmente irresponsáveis. E o que a gente pedir, terá que ser cumprido…

Se os 60 já nos dão esse direito, então eu quero sorvete de amora e todinha pra mim as ilhas Canárias onde eu possa pular corda com a Angelina Jolie e o Brad Pitt. Ai que corda pularíamos, vade retro pecaminoso arcebispo de Olinda e Recife! Vade retro!

Já posso pular corda com o Brad Pitt, sim, viu? Sou de 1949, meu não-senhor.

Wilson Bueno (22/3/2009) O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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