Foto sem crédito.

Vi, na semana, a sacudida entrevista que Jorge Pontual fez em Nova York, para a Globo News, com Helen Fisher, doutora em antropologia e uma das mais respeitáveis “amorólogas” de plantão. É autora de um clássico sobre o tema, A anatomia do amor, onde disseca as várias faces desse sentimento tanto capaz de multiplicar quanto de assassinar em massa ou em série. Do amor ninguém escapa – já dizia Freud, claro que em alemão e com outra sintaxe…

Por amor o massacre promovido pelo soldado americano, também em nova semana de gripe suína e da carteira de motorista com 130 pontos negativos? Cinco colegas de combate mortos e três feridos em Bagdá… Dois jovens mortos em Curitiba… Sim, caros animais meus semelhantes, o amor ao ódio também é uma forma de amor. Sinistra, mas, pasmem!, na visão da expert Fisher, também amor.

É essa visada singular, lúcida posto que alcança enxergar o avesso do avesso do avesso (que ainda é, por suposto, o avesso…) o que chama atenção nos inúmeros estudos e ensaios de Helen Fisher sobre o amor. Claro, há o amor ao Amor, sublimidade de um santo espírito que faz um Einstein, um Santos-Dumont ou uma madre Tereza de Calcutá. Mas, em contrapartida, o nefasto amor, por exemplo, de Adolf Hitler aos preceitos (preceitos?) do
Nacional-Socialismo…

Ms. Fisher

estudou 62 culturas para escrever o seu A anatomia do amor. Particularmente intrigante, senão assustador, o que dedica à paixão, no geral uma sinistrose que costuma acometer pessoas de todos os sexos, dos 13 aos 100 anos. Segundo a antropóloga, estudiosos da neurociência já comprovaram em laboratório que vastas áreas cerebrais são tomadas pela “dopamina” nos apaixonados.

A dopamina é um neurotransmissor responsável por estimular o sistema nervoso central. Do guerreiro índio prestes a disparar sua flecha, ao motorista enlouquecido no trânsito, estão ambos “dopados”… Desnecessário acrescentar a origem do verbo.

Somos mesmo uns animais complexos e se foi pelo amor de Deus que surgimos cá neste insensato mundo, é cousa bem mais teosófica do que científica. Acredite quem quiser. Deu-nos, o Criador, segundo o cânone religioso, o livro arbítrio. E se fizemos, com a liberdade de amar, os poemas suntuosos e as obras eternas no bronze ou no mármore, não nos esqueçamos da lição de Helen Fisher – também criamos com ela o que mora no avesso do sentimento alguma vez odioso.

Feito dizia Drummond num soneto não por acaso chamado “Destruição”: “Os amantes se amam cruelmente/ e com se amarem tanto não se vêem/ Um se beija no outro refletido/ Dois amantes que são? Dois inimigos”.

Helen Fisher e o alucinado soldado americano que o digam. Ah, e também a dopamina.

Wilson Bueno (17/5/2009) O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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