A Seleção do Cérebro entra em campo! É o grande jogo contra a temida Seleção da Irracionalidade. Uma festa para a torcida que lota o estádio. A formação da Seleção do Cérebro é a mesma há cem mil anos, só que a crônica neuroesportiva ainda insiste em duvidar da força de cada integrante e do esquema tático armado pelo treinador DNA.

Acompanhe lá!
Cerebelo, no gol, número 1.
Bulbo, zagueiro central, número 2.
Ponte, zagueiro direito, número 3.
Terceiro ventrículo, ala direito, número 4.
Hipocampo, ala esquerdo, número 5.
Meio de campo com Tálamo, Circunvoluções, Pedúnculo Central e Gânglios de base.
Na frente, Fórnix e Corpo caloso.
No banco: Núcleo caudado, Ventrículo Lateral e Fissura longitudinal.
A tática usada divide o time em cérebro reptiliano, cérebro límbico e neocórtex.

O cérebro reptiliano seria responsável pelo comportamento sexual, alimentar, de sono-vigília, agressivo e social. Como o próprio nome diz, ele seria nosso padrão básico “Animal” num time profissional ou numa pelada entre casados e solteiros. O cérebro límbico joga estreitamente ligado ao anterior, com as mesmas funções, só que mais elaboradas. Um jogo mais bonito como cuidar da prole, respeito à hierarquia, divisão de trabalho. Um tipo Ganso, Falcão ou Ademir da Guia.

O neocórtex é o cérebro humano propriamente dito. Ele é o que tenta ser o comandante da equipe a toda hora. Confere a ela o poder criativo, a motricidade elaborada, a possibilidade de cálculos matemáticos, o conhecimento mais abrangente do universo. Seria causador de um jogo intelectual mais dinâmico, mais prazeroso, mais bonito. Talvez Messi e Cristiano Ronaldo usem a tática do neocórtex. Talvez. Nem sempre. Pelé usava.

Aí, para atacar e defender, o treinador dividiu o time em dois setores: o hemisfério direito e o esquerdo.

No hemisfério esquerdo se alojam as atribuições referentes à estrutura social, política e cultural. Tais como: racionalidade, logicidade, praticidade, objetividade, realismo, formalidade e controle. Seria o hemisfério dominante em campo. É aquele que fala, grita e xinga também.

O hemisfério direito seria responsável pela imaginação, pela criação, pela geração de imagens, pela metáfora, pelas idiossincrasias. É mudo e, quando precisa, manda o hemisfério esquerdo se expressar por ele.

O treinador costuma dizer que o hemisfério esquerdo é o sábio e o direito é o místico. Ou seja, o jogador faz um gol de cagada e o sinal da cruz depois.

Nessa altura do campeonato, com os dois times já em campo, a coisa se complica. Tudo o que o treinador DNA falou para os jogadores parece que entrou por um ouvido, desviou todas as funções demarcadas no cérebro e saiu pela boca em forma de uma oração muito compenetrada à beira do campo.

E, então, quando a bola rola… tudo se esfuma. São noventa minutos de chutes e pontapés a torto e a direito. Ninguém é de ninguém e salve-se quem puder. Um a zero é goleada. Que vença o melhor ou o pior. Importante é a festa — a zoeira infernal das vuvuzelas: que mostra bem o que é o cérebro reptiliano em ação total.

Rui Werneck de Capistrano é sinuquista, peladeiro e goleador sutil.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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