
será outra em alguns segundos
outra e outras mais
ou caso não haja nuvens
nem sol a se esconder
ou só nuvens plúmbeas
lâminas no céu
a frisar o horizonte com negritude
nem tarde nem cedo demais
tem vez que ela – estática extasiante
se sai fina – aguda
fio da esperança
de uma fresta no breu
ou um sol de mariposas
cônica e efêmera
quando em noite sem vento
sem chuva sem sereno
a luz se faz do lado de cá
essa sutil falsificação da realidade
virá do facho largo da lâmpada
calculada em micro watts
ou fechada como o foco no confessor
ela vem da chapa de espelhos
multiplicada e inebriante
como um dia ensolarado
depois rebatida e morta
uma câmera
o que poderá uma câmera na mão
sem uma idéia na cabeça?
o que sentirão os olhos injetados
de cansaço e angústia?
veios carmim prestes a estourar?
o coração? o que irá ver e lhe bater
a cada segundo 24 vezes?
o peso sobre os ombros débeis
nos ombros profissionais
a câmera nas mãos
no olho a grua
alta e bom som a idéia
as mãos formigam como alheias
ao empunhar sem parar
a metralhadora de olhares
movimento – a menina vem passar
e só uma vez o homem e a velhinha
um pintor em devaneio boêmio
visualiza a própria mente
até refratar aos sentidos
o subjetivo olhar da imaginação
sair e viajar com bilhete de volta
a cada cena
até o embarque da platéia em fantasia
e o sonho nunca acaba
reação ação reação ação
atores atuação atos atitudes
a arte os artistas
puros como o sonho das estrelas
seduzir abdicar sofrer calar
verbalizar bastidores
incendiar mentes e corações
racionalizar o mito e pronunciar a verdade
em sua busca nos ensaios perfeccionistas
como pegar agora aquele passado
e deixá-lo com cara de futuro?
a seqüência de imagens senão mapas
de uma geografia humana
a contar sua história
a conter uma idéia
na cabeça
ewaldo schleder – ago 2010