Foto de Toninho Vaz.
Quinta-feira, 12 de março, fim de tarde. Chove muito em Curitiba. Acaba de explodir a veia carótida do radiador da Pata Choca, meu velho automóvel. Atrasado, peço carona ao Marco Buchmann. Farei a abertura de um evento sobre a cultura árabe, na qual pretendo desancar todos os políticos que até hoje não batizaram uma rua com o nome do Turco Jamil. A briga pelo Boulevard Jamil Snege era do Wilson Bueno, agora deve de todos, seis anos depois. Mas está difícil chegar ao local. É viagem de uma hora. Está abafado. Aproveito para desancar também o aquecimento global, os inventores do colarinho, da gravata e das meias pretas. Xingo o planejamento de trânsito, como se ele fosse um ser com RG e CPF. Na nossa frente um carro resolve parar com o sinal aberto. Leio a placa: Calmon, SC. “Caralhos”, digo com toda a calma que me resta. “Não me faltava mais nada: um motorista de Calmon.” Marco me olha de esgelha: — Cara, do jeito que você está, nem quero imaginar o que aconteceria se fosse de Nervoson.
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Sexta-feira, 13, começo da manhã. Homero Camargo, Marco Bassetti e eu vamos ao Rio de Janeiro, para reunião com Nelson Pereira dos Santos. Homero veste camiseta preta, colete de fotógrafo, jaqueta jeans, foullard no pescoço, coturnos. Está agasalhado para uma reunião em Oslo, não no Rio, 40 Graus. Deixei meus documentos no bolso do paletó de ontem, sou impedido de embarcar. A Tânia chama um táxi, os documentos chegam. Enfim, podemos viajar, dois aviões mais tarde. Homero, fazendeiro, leva um canivete no bolso. É barrado, quase preso. Somos uns trapalhões, pacientes do Dr. Simão Bacamarte. Na volta, o comandante desanda a dar informações. Lá pela quinta vez, Marco Bassetti reclama: — Este piloto é um mala. O homem segue matraqueando, agora para dizer que a temperatura em Curitiba caiu para 13 graus. Homero exulta, suas camadas de roupas são capazes de suportar frio ainda pior. De novo o comandante: “Atenção, quero retificar: temperatura em Curitiba, 26 graus”. Homero não resiste: — Além de mala, mentiroso.
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Sábado, 14, quase madrugada. Marco Bassetti me pega em casa, temos compromisso profissional em Florianópolis no começo da manhã. Viagem tranquila, pedágios razoáveis, sol camarada. A reunião é agradável, como sempre naquela latitude. Antes de voltar, resolvemos almoçar em um restaurante no sul da ilha. Frutos do mar, chopp gelado para mim que não irei dirigir. Bassetti lembra uma história dos políticos de antigamente, que todo mês precisavam vir a Curitiba. Exigidos por audiências, visitas e, principalmente, pelos encantos da noite, demoravam mais do que o pretendido. Foi assim que um deles, já lamentando abandonar a gringa com quem havia dividido a cama durante a semana, telegrafou para casa: “Chego amanhã, talvez não vá”.
Ernani Buchmann.
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