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Ouvi o primeiro novo single do The Strokes, Under Cover of Darkness, numa apresentação morna no Saturday Night Live e não me impressionei. Hoje, é ele que toca sem parar, enquanto escrevo essa coluna, aqui em casa. Melhor ouvi-lo no disco. A música é mais um clássico dos garotos e foi cantada em uníssono pelo Madison Square Garden lotado há alguns dias, na data do meu aniversário, primeiro de abril. Inclusive aquele final dramático com Julian Casablancas se esgoelando “So long, my friend!!! and adversary!!!”.

A melhor declaração que ouvi sobre o disco veio de Julian mesmo: “Eu sei o que as pessoas querem de nós, mas agora é impossível”. Essa constatação, em parte, explica os rumos trilhados pelo The Strokes em Angles. E apesar de ser um disco realizado em tempos sombrios, Julian bebendo mais do que nunca, gravando sua parte distante do resto dos amigos e mandando os arquivos por e-mail, e Albert Hammond Jr. internado parte do tempo em uma clínica para desintoxicação do crack, vício adquirido durante o período de sua separação da modelo Agyness Deyn, a obra é consistente e até melhor que o último First Impressions of Earth. Só dez músicas, e com uma ou duas excessões, todas muito boas. Soa…The Strokes, mas com algo a mais, reinventado em parte devido a fissura de Julian pela sonoridade e visual dos anos 80, ou em parte pelo imenso talento criativo dessa banda que possivelmente seja, realmente, a melhor desse século até agora. Com toda essa dissolução o disco tinha tudo pra soar um Cut The Crap dos frangalhos do The Clash, mas é tão interessante quanto Phrazes of Young, o disco solo de Casablancas e, o que é surpreendente, melhora a cada audição. Ou a cada apresentação. Recentemente, eles tocaram Taken for a Fool no programa do David Letterman e, acreditem, foi incrível. Assistam no You Tube e percebam como Julian Casablancas está cantando cada vez melhor. O disco vem sendo tratado como a reinvenção da banda que reinventou o rock, em 2001, com Is This It?. Alguns dizem que o disco lembra porque eles eram tão irresistíveis. Outros, é fato, dizem que soa como um disco feito por quem não queria fazer um disco. Esses já marcaram a data do final do The Strokes. Quando eles entregarem seu quinto e último disco previsto no contrato com a RCA e a Rough Trade. Quando os Strokes surgiram, naquela capa famosa do semanário New Musical Express que dizia “Porque eles vão mudar a sua vida”, todos falavam do novo The Velvet Underground. Mas, da linda capa oficial de Is This It (uma das minhas preferidas, aquela da luva e do quadril feminino) até a estratégia de cruzar o Atlântico e divulgar o trabalho antes no apaixonado Reino Unido, tudo me lembrava a história do New York Dolls. Na época, o mesmo semanário NME, apontava para os Dolls: “Vimos o futuro da música”.

Enquanto isso o Arctic Monkeys vazou, há algum tempo, Brick by Brick, primeiro single do novo disco Suck It And See. A conclusão é que não se pode soltar uns inglesinhos de Sheffield no sol de L.A. É uma boa música com a participação de Josh Homme, gênio do Queens of Stone Age, mas soa…Queens of Stone Age. Alex Turner deve andar pensando: “Eu sei o que as pessoas querem de nós, mas agora é impossível” e assim o mundo segue. E qual é o problema de se deixar influenciar pelos ventos pacíficos da California, desde que o pó dos tijolos das fábricas do norte do Reino Unido não saiam do sangue desses meninos? O disco promete. Divulgados os nomes das músicas, eles são ótimos. Coisas como She`s Thunderstorms, The Hellcat Spangled Shalala, Don`t Sit Down `Cause I`ve Moved Your Chair, Piledriver Waltz, Love Is A Laserquest. Em junho.

No final de setembro terei a oportunidade de assistir ao Portishead pela primeira vez no clássico Asbury Park em New Jersey. A banda fez a curadoria da versão americana do All Tomorrows Parties. Um dos shows mais esperados é o do The Horrors que, provavelmente, tocarão inéditas do sucessor do surpreendente Primary Colours. Eu confesso que quando essa banda apareceu eu pensei que era coisa pra festinha dark de adolescentes começando a frequentar East London; mas Geoff Barrow (do Portishead) e o videomaker Chris Cunningham os apresentaram para Psychocandy e Suicide e a banda gravou, em Bath, um excelente segundo disco. Por isso aguardamos ansiosos seus próximos passos. Outros discos são muito esperados neste ano. Rome, a nova banda do brilhante Jack White com Danger Mouse e Norah Jones, The Drums, Glasvegas, Wild Beasts. Como esperado, James Blake lançou um grande disco. Os EPs já eram todos ótimos. Anna Calvi, protegida por Brian Eno, é interessantíssima, pra dizer o mínimo. What Did You Expect From The Vaccines? justifica o hype em torno dessa banda neste verão. É um disco divertido, criativo, mas não original, é claro. Soube que eles gravaram muito rápido, o que nesse caso, é inteligente. O disco tem o frescor para marcar uma estação. E isso não é pouco. Myths of The Near Future do Klaxons foi assim. Poucos iluminarão uma década ou a história como Whatever People Say I Am, That`s What I`m Not e Is This It? fizeram.

Mas o melhor disco do ano continua dominando o fone Pioneer HDJ 1000 na minha cabeça: o fascinante Let England Shake da P. J. Harvey. Ainda falarei mais sobre ele. E também sobre King of Limbs do Radiohead e Collapse Into Now do R.E.M.

Felipe Hirsch (O Globo)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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