A melhor declaração que ouvi sobre o disco veio de Julian mesmo: “Eu sei o que as pessoas querem de nós, mas agora é impossível”. Essa constatação, em parte, explica os rumos trilhados pelo The Strokes em Angles. E apesar de ser um disco realizado em tempos sombrios, Julian bebendo mais do que nunca, gravando sua parte distante do resto dos amigos e mandando os arquivos por e-mail, e Albert Hammond Jr. internado parte do tempo em uma clínica para desintoxicação do crack, vício adquirido durante o período de sua separação da modelo Agyness Deyn, a obra é consistente e até melhor que o último First Impressions of Earth. Só dez músicas, e com uma ou duas excessões, todas muito boas. Soa…The Strokes, mas com algo a mais, reinventado em parte devido a fissura de Julian pela sonoridade e visual dos anos 80, ou em parte pelo imenso talento criativo dessa banda que possivelmente seja, realmente, a melhor desse século até agora. Com toda essa dissolução o disco tinha tudo pra soar um Cut The Crap dos frangalhos do The Clash, mas é tão interessante quanto Phrazes of Young, o disco solo de Casablancas e, o que é surpreendente, melhora a cada audição. Ou a cada apresentação. Recentemente, eles tocaram Taken for a Fool no programa do David Letterman e, acreditem, foi incrível. Assistam no You Tube e percebam como Julian Casablancas está cantando cada vez melhor. O disco vem sendo tratado como a reinvenção da banda que reinventou o rock, em 2001, com Is This It?. Alguns dizem que o disco lembra porque eles eram tão irresistíveis. Outros, é fato, dizem que soa como um disco feito por quem não queria fazer um disco. Esses já marcaram a data do final do The Strokes. Quando eles entregarem seu quinto e último disco previsto no contrato com a RCA e a Rough Trade. Quando os Strokes surgiram, naquela capa famosa do semanário New Musical Express que dizia “Porque eles vão mudar a sua vida”, todos falavam do novo The Velvet Underground. Mas, da linda capa oficial de Is This It (uma das minhas preferidas, aquela da luva e do quadril feminino) até a estratégia de cruzar o Atlântico e divulgar o trabalho antes no apaixonado Reino Unido, tudo me lembrava a história do New York Dolls. Na época, o mesmo semanário NME, apontava para os Dolls: “Vimos o futuro da música”.
Enquanto isso o Arctic Monkeys vazou, há algum tempo, Brick by Brick, primeiro single do novo disco Suck It And See. A conclusão é que não se pode soltar uns inglesinhos de Sheffield no sol de L.A. É uma boa música com a participação de Josh Homme, gênio do Queens of Stone Age, mas soa…Queens of Stone Age. Alex Turner deve andar pensando: “Eu sei o que as pessoas querem de nós, mas agora é impossível” e assim o mundo segue. E qual é o problema de se deixar influenciar pelos ventos pacíficos da California, desde que o pó dos tijolos das fábricas do norte do Reino Unido não saiam do sangue desses meninos? O disco promete. Divulgados os nomes das músicas, eles são ótimos. Coisas como She`s Thunderstorms, The Hellcat Spangled Shalala, Don`t Sit Down `Cause I`ve Moved Your Chair, Piledriver Waltz, Love Is A Laserquest. Em junho.
No final de setembro terei a oportunidade de assistir ao Portishead pela primeira vez no clássico Asbury Park em New Jersey. A banda fez a curadoria da versão americana do All Tomorrows Parties. Um dos shows mais esperados é o do The Horrors que, provavelmente, tocarão inéditas do sucessor do surpreendente Primary Colours. Eu confesso que quando essa banda apareceu eu pensei que era coisa pra festinha dark de adolescentes começando a frequentar East London; mas Geoff Barrow (do Portishead) e o videomaker Chris Cunningham os apresentaram para Psychocandy e Suicide e a banda gravou, em Bath, um excelente segundo disco. Por isso aguardamos ansiosos seus próximos passos. Outros discos são muito esperados neste ano. Rome, a nova banda do brilhante Jack White com Danger Mouse e Norah Jones, The Drums, Glasvegas, Wild Beasts. Como esperado, James Blake lançou um grande disco. Os EPs já eram todos ótimos. Anna Calvi, protegida por Brian Eno, é interessantíssima, pra dizer o mínimo. What Did You Expect From The Vaccines? justifica o hype em torno dessa banda neste verão. É um disco divertido, criativo, mas não original, é claro. Soube que eles gravaram muito rápido, o que nesse caso, é inteligente. O disco tem o frescor para marcar uma estação. E isso não é pouco. Myths of The Near Future do Klaxons foi assim. Poucos iluminarão uma década ou a história como Whatever People Say I Am, That`s What I`m Not e Is This It? fizeram.
Mas o melhor disco do ano continua dominando o fone Pioneer HDJ 1000 na minha cabeça: o fascinante Let England Shake da P. J. Harvey. Ainda falarei mais sobre ele. E também sobre King of Limbs do Radiohead e Collapse Into Now do R.E.M.
Felipe Hirsch (O Globo)