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Em um subúrbio de Sheffield, no ano libertino de 2003, um garoto chamado Alex Turner, fã do The Coral, Supergrass e, principalmente, do Oasis, criou a sua banda. No ano anterior ele havia ganhado, como presente de natal, sua primeira guitarra. É claro, tudo começou pela Internet, cinco minutos com  o Arctic Monkeys, uma demo-tape disponibilizada para download. O primeiro single lançado, despretensiosamente, foi descoberto e tratado com a expressão inglesa capaz de traduzir o nosso “o que há”: the real thing. Logo os ArcticMonkeys se tornaram o símbolo da primeira geração capaz de lançar e divulgar suas novas bandas de rock, essas que crescem como capim em cada garagem do Reino Unido, sem o auxílio luxuoso do mainstream. O primeiro disco, depois de uma forte onda de histeria, foi habilmente chamado “Whatever People Say I am, That`s What I`m Not”, algo como, “O que quer que as pessoas digam que eu sou, é isso que eu não sou”. Lançado em 2006, se tornou o “mais rápido” álbum “mais vendido” da história da música britânica, e recebeu todas as melhores críticas e prêmios que você possa imaginar. Detalhe: Alex tinha 19 anos. Jóia da coroa, esse menino, capaz de escrever seus versos livres com ironia poética comparável a mestres do gênero como Morrissey, com o mesmo dialeto do norte, afirma que “não há amor, nem  Montecchios nem Capuletos (herança Shakespeareana), só sons de batidas dos sets dos Djs no chão sujo das pistas de dança e sonhos de perversão”. Em outra passagem Alex nos alerta para que fujamos rápido antes que acendam as luzes, porque assim, “você não terá que ver o que acabou de fazer”.  2007 foi o ano de Favourite Worst Nightmare. Quase tão incrivelmente brilhante quanto o primeiro disco. A recepção calorosa fez um enciumado primeiro ministro Britânico, Gordon Brown, afirmar que estava mais interessado no futuro do Circulo Polar Ártico do que no futuro dos Arctic Monkeys.

Como dizia o The Libertines, “(…) If you’ve lost your faith in love and music oh the end won’t be long” (se você perdeu sua fé no amor e na música o fim está perto). Mas ao contrário do Neo-classisismo punk de uma Inglaterra mitológica de heróis românticos criados por Carl Barat e Pete Doherty, Alex Turner e o fenômeno Arctic Monkeys sempre andaram ligados nos seus dias. E no coração do que é simples e direto. Fazer poemas com restos de frases. Soar ritmo e poesia num impressionante fluxo de idéias. Por vezes pesadas e darks, como na belíssima “Do me a favor”, do segundo disco, outras, apaixonadas e irônicas como em Mardy Bum, do primeiro.  A NME, dessa vez, foi capaz de eleger o primeiro disco do Arctic Monkeys como um dos cinco melhores álbuns de estreia de todos os tempos. E os Beatles estavam sim, sacrilégio, nessa lista. A melhor capa da qual me lembro dessa época era de uma revista americana e dizia: “Eles (os ingleses) conseguiram de novo!” Transformavam mais uma vez a história da música popular. Mas os Arctic Monkeys nunca estiveram interessados em aparência, são a essência da sua própria descoberta. Naqueles dias, injetaram sangue novo no coração e no cérebro de uma juventude que não pode deixar de acreditar no amor e na música.

Hambug, o razoavelmente defenestrado terceiro disco, é na verdade muito interessante. Mas é, inaceitávelmente para muitos, uma virada radical rumo ao oeste. Hollywood Hills, Santa Monica, Inland Empire, Low e Mojave Desert. A conclusão é que não se pode soltar uns inglesinhos de Sheffield no sol de L.A. O disco é devotado ao novo mestre, Josh Homme, gênio do Queens of the Stone Age. É complexo e rico harmônicamente, é mais maduro, mas isso nem sempre é necessariamente bom para uma banda que, instintivamente, parecia uma metralhadora giratória de idéias brilhantes. Ainda assim, músicas lindas como Fire and The Thud e Cornerstone fazem parte desse disco difícil. É sempre importante notar que uma hora ou outra esse passo fora da área circunscrita aconteceria. Alex Turner é inteligente demais para andar em círculos.

Agora, o que esperar de Suck It and See (ou como diz Lucio Ribeiro “Chupa”), o novo disco anunciado, com uma bela capa minimalista? O primeiro single vazado, Brick by Brick soa demais QotSA. Incluindo participação da voz de Josh Homme. Já o segundo single, essa semana, divertidamente chamado Don`t Sit Down `Cause I`ve Moved Your Chair, lembra mais nitidamente o Arctic Monkeys. Mas qual é o problema de se deixar influenciar pelos ventos pacíficos da California, desde que o pó dos tijolos das fábricas do norte do Reino Unido nunca saiam do sangue desses meninos? Divulgados os nomes das músicas, eles são ótimos. Coisas como She`s Thunderstorms, The Hellcat Spangled Shalala, Piledriver Waltz, Love Is A Laserquest.

Nas próximas semanas será difícil parar de ouvir A Certain Romance, a minha preferida do primeiro disco, no carro, em casa, sentado, esperando ansiosamente. Eles sabem muito bem como continua essa história. Em um EP, certa vez, outra vez, brilhantemente chamado Who The Fuck Are Arctic Monkeys?, eles diziam: “Nós todos queremos alguém para gritar, todo mundo quer alguém para adorar, mas seus heróis não são o que parecem (…) Centenas pensam que são Cristóvão Colombo, mas os nativos já estavam assentados muito tempo antes (…) em cinco anos, será: “Que porra é essa de Arctic Monkeys?”.

Felipe Hirsh (O Globo)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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