Não há surpresa, nem novidade. Assim é a vida. Começo, meio e fim; com bons, amenos e maus momentos, um tempero sem o qual ela perderia a graça.

Esse adeus, paradoxalmente, não é propriamente o adeus da despedida final, mas o adeus de um jornal que foi por longos anos minha segunda casa, empresa à qual dediquei muito do meu sangue e, no jornalismo do passado, até algumas noites indormidas. Lembro-me agora que no momento em que passamos da rotativa convencional para o sistema “off-set”, que fui conhecer quando a convite do governo americano, tomei contato com os principais jornais dos Estados Unidos e, apropriadamente, com alguns de menor porte, como da cidade de Napa (conhecer o The New York Times, para jornalista provinciano, só assusta e causa inveja), mas os diários de outras cidades dos EUA são interessantes e ali pudemos aprender alguma coisa.

O que estou, contudo, querendo dizer é que estou me despedindo de uma empresa que dividiu meu coração, que me ofereceu a oportunidade de ganhar algum respeito em nossa imprensa, depois de nela batalhar por algumas décadas, através da qual mantive uma ligação relevante com a sociedade e que me permitiu criar o jornal que sempre imaginei, um jornal para a cidade de Curitiba, para o qual, como disse na primeira reunião com os redatores, seria de maior importância um mendigo esfomeado na Praça Tiradentes do que um acidente de avião na Indonésia. E, lembro-me ainda que briguei pelo título. Ao tempo, o diretor-gerente, saudoso João Baptista Moraes, insistia que fosse Jornal do Dia, com a idéia de que o leitor indeciso pedisse na banca um jornal do dia. Talvez? Já o Josias Marquesi sugeriu Folha do Paraná e, se não me engano, o Humberto Saporiti preferia Diário de Curitiba. Boas idéias.

Mas não sei impulsionado por qual sentimento, encasquetei com Tribuna do Paraná e, com o apoio de Fernando Affonso Alves de Camargo, sócio igualitário de Aristides Merhy, já então diretor de O Estado do Paraná, quando Fernando, não diretor apenas da editora, apanhou uma cadeira, sentou-se ao meu lado e como se falasse um segredo me cochichou: “Você, que é a melhor cabeça dessa redação, bole um jornal para vender 500 exemplares nas filas de ônibus, no fim da tarde”.

Passados alguns dias, cobrou-me: Pronto? Ainda não. Como um jornalzinho para vender 500 no fim da tarde… Não, Fernando. Vamos criar um jornal para Curitiba. Como? Sim, um jornal para o qual será notícia de maior valor o fato sucedido localmente, de interesse direto dos curitibanos, com eles relacionados, onde ele saiba que poderá encontrar informação sobre seus amigos, vizinhos, parentes, enfim dos seus mais próximos, em lugar de saber se Brigite Bardot estava de namorado novo ou se Sofia Loren teria acertado um novo casamento. E o nome? O nome está aqui: Tribuna do Paraná. Tem certeza? Absoluta. Em pouco tempo, o leitor vai chegar na banca e dizer simplesmente: a Tribuna, por favor! Será? Espere e vamos conferir. Não precisou muito tempo.

A sorte (que o céu me perdoe!?) foi que logo em seguida caiu um avião da Real, creio que o único acidente grave até hoje no Aeroporto Afonso Pena, no qual morreram o senador Nereu Ramos e o governador catarinense Jorge Lacerda. E a edição extra da Tribuna tomou conta da cidade. E a cidade nunca mais a abandonou.

P.S. – Grato à sociedade curitibana, que jamais me incomodou por haver escrito algo malrecebido, único orgulho que alcancei, e até breve, numa esquina qualquer…

João Feder [24/06/2007] O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Geral, Sem categoria. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.