Rui Werneck de Capistrano

Foto sem crédito.

Hesíodo não hesitou e disse na sua Teogonia: O caos foi o primeiro a existir. Mas acredito que o caos não era caos antes de ser nomeado pelo homem. E agora se pode dizer que tudo é caos. Pois, uma vez nomeado caos como o desencontro de todas as coisas da natureza, ele permanece. Ele, o desencontro, permanece. Estamos ainda confusos diante dos poderes da Natureza (com êne maiúsculo). Até aonde vai a razão? Já deixamos de nos guiar pelos instintos animais? A natureza está acima do bem e do mal, disse o filósofo. Mas o homem é a natureza e não está acima do bem e do mal. Apenas os animais irracionais e os demais componentes sem vida o estão. O bem e o mal são essencialmente humanos. Embora apliquemos a todas as ações dos irracionais esses apelos. Chamamos o lobo de mau quando mata um simples cordeirinho. Um lobo simboliza o mal. Um cordeirinho simboliza o bem. O que tenta ordenar o caos é a linguagem do homem. Tentamos ordenar as plantas em famílias, os peixes em espécies, as pedras em componentes químicos, os astros em galáxias. Tudo para que o caos desapareça, mas é em vão. Para que o caos desaparecesse, teríamos todos que aprender tudo. Todas as famílias de plantas, espécies de peixes, componentes químicos das pedras, todos os componentes do universo. A ignorância é a mãe do caos. A burrice é mãe da ignorância. Na placa da sortista, ela diz que lê a sorte nas cartas, nos búzios e na borra de café. Na placa ao lado, o psicólogo se anuncia. Na outra esquina, um luminoso diz que a mega sena está acumulada em dezenas de milhões.  Spinoza, do alto do seu saber, pondera que ninguém despreza qualquer coisa que julgue ser boa, exceto na esperança de obter um bem maior. E vamos de cambulhada formando filas imensas nas lotéricas, logo depois de consultar a sortista que lê o futuro na micose dos pés. E, se nada der certo, vamos ao terapeuta que nos auxilia, segundo o jargão, a nos enxergar melhor na nossa confusão. Chaos chiaro-oscuro. 

É técnico em caos e regiões limítrofes – 28|10|2011

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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