![](http://soldacartum.files.wordpress.com/2008/01/dantchi1.gif?w=300)
Antes da noite de autógrafos de 1808, aqui em Curitiba, havíamos nos encontrado pela última vez em 1995, justamente na Torre de Belém, em Lisboa, de onde partiu d. João VI para a viagem de fuga que deu origem a esse sucesso editorial. O paranaense Laurentino Gomes, hoje um dos diretores da Editora Abril, escreveu o depoimento abaixo, a partir da seguinte pergunta:
– Por que os brasileiros, que até tempos atrás enfrentavam o tema com enfado nas escolas, agora se mostram tão interessados em ler sobre d. João VI e sua corte?
***
Tenho duas hipóteses:
1) Finalmente estão surgindo obras com linguagem mais acessível a leitores comuns, livres do jargão e do ranço acadêmico que tanto marcaram um certo período da narrativa histórica no Brasil, especialmente na que eu chamo de fase “marxista”, marcada pelas obras de historiadores como Nélson Werneck Sodré, Celso Furtado e Caio Prado Júnior, para citar apenas alguns exemplos. Esses autores deram, obviamente, contribuições importantes à historiografia brasileira, mas, convenhamos, produziram obras muito chatas e inacessíveis aos leitores leigos. O ensino de História nesse período impôs um sacrifício desmedido aos estudantes nos bancos escolares. Nesse aspecto, esses autores ajudaram a afastar os brasileiros do estudo de História. Felizmente hoje, além dos jornalistas, alguns historiadores estão se destacando pela capacidade de escrever em tom didático e fácil de entender. Entre eles estão José Murilo Carvalho, com o seu bem-sucedido D. Pedro II, Mary Del Priore, com O príncipe maldito, e Lilia Schwarcz, com A longa viagem da biblioteca dos reis. Eu, modestamente, me julgo incluído nesse grupo com 1808.
2) O Brasil de hoje se tornou um país tão complicado de explicar que as pessoas estão voltando ao passado no esforço de entendê-lo. Isso é uma boa notícia. Ninguém consegue explicar o presente sem entender os acontecimentos do passado. Acho que depois da redemocratização se alimentou no Brasil a falsa esperança de que bastavam o voto direto e a eleição de alguns presidentes messiânicos – Collor, Lula – para que todos os problemas se resolvessem. A constatação hoje é que um país se muda muito mais lentamente. Problemas brasileiros que consideramos tão atuais já estavam presentes na nossa história duzentos anos atrás. Corrupção, clientelismo, troca de favores, ineficiência nos negócios públicos, desigualdade social estava tudo lá no Brasil de D. João VI. Mas foi lá também que nasceu o Brasil que conhecemos hoje, um país integrado, de dimensões continentais, que tem a mesma cultura e a mesma língua, adota o mesmo currículo escolar e torce pela mesma seleção de futebol. Paul Johnson, historiador britânico e também jornalista, diz no livro A History of the American People que os países, tanto quanto os seres vivos, têm um DNA. A forma como um país é criado define todo o seu futuro, diz ele. O que procuro demonstrar no meu livro é que o código genético do Brasil está em
1808 para o bem e para o mal.Dante Mendonça [02/01/2008]O Estado do Paraná.