Os jornais anunciam que a Disney comprou a LucasFilm por 4 bilhões de dólares, sendo metade em dinheiro e metade em ações da Disney. Depois das aquisições da Marvel e da Pixar, esta nova avançada da Disney no mercado da FC infanto-juvenil (é onde se enquadra essa barafunda toda) começa a parecer um monopólio. Isto é ruim? É ruim quando decisões estéticas de grande impacto passam a ser tomadas pelo mesmo grupinho de executivos. Tudo pode ficar ainda mais parecido do que já era. Mas é bom, pelo fato de que o desgaste criativo de George Lucas, claríssimo nos filmes mais recentes, estava inviabilizando a série. Nenhum espectador maduro poderia levar a sério filmes tão mecânicos, sem alma, sem coerência narrativa e sem emoção dramatúrgica quanto os últimos que vi, “A Ameaça Fantasma” e “A Revolta dos Clones”. (Não, nunca assisti “A Vingança dos Sith”, espero que alguém me convença de que é o melhor de todos.)
O fato é que Lucas não é um grande diretor. Basta comparar seus três primeiros filmes, que dirigiu entre 1971-1977 (“THX-1138”, “Loucuras de Verão” e “Star Wars 1: Uma Nova Esperança”) com suas três tentativas no seu retorno para retomar a saga entre 1999-2005 (os três citados acima). A diferença de qualidade é espantosa. Os filmes feitos por ele na juventude mostram ousadia, apontam para direções diferentes, têm humor (menos “THX”, cuja proposta é mostrar um tecno-pesadelo), têm atores trabalhando à vontade. São filmes de um diretor jovem que se descobre cheio de recursos (embora nem sempre) em pleno voo, e isto é um dos aspectos que nos empolga no cinema – ver alguém construindo o próprio automóvel durante a viagem. Já os filmes que Lucas dirigiu entre os 55 e os 61 anos não têm nada desse espírito. São filmes com uma tecnologia espantosa, mas sem vibração, sem “punch” narrativo. Impõem-se pelo mito da saga; porque seduzem os jovens de hoje e fazem cafunés no saudosismo dos jovens de ontem. Mas não são bons filmes. São filmes de um executivo cansado tentando beber na Fonte da própria Juventude.
Lucas sempre me pareceu um bom sujeito, e fiquei muito comovido ao vê-lo dizer anos atrás que tudo que queria no início era fazer filmes de vanguarda, daqueles bem “cabeça”, para passar no circuito universitário. Ao contrário de Spielberg, que tem Hollywood no DNA, Lucas é um nerd introspectivo cujo sucesso precoce o fez desabrochar como executivo e murchar como artista. “Star Wars” vai renascer? Tomara, porque gosto muito da saga, que me deslumbrou “quando eu era alegre e jovem”. Mas algo me diz que o suspiro de alívio de Lucas ao assinar o contrato de venda deu para se ouvir até na Paraíba.