Na sala de uma casa fechada sofre terrivelmente o abandonado. Bem me recordo da noite em que o visitei, depois que ele voltou de uma orgia de ervas e líqüidos. Era sábado de inverno em Vila de Santa Chuva.

Ele não foi jantar no Solar dos Grüningen, onde habitualmente jantava também a divina bandoleira. Preferiu ficar ali prostrado, num abandono de chuva nas calhas, de uva na língua.

Creio mesmo que no Solar dos Grüningen a divina bandoleira esteja, nesse instante, sob uma pensativa árvore e contempla, naquele retiro de sombra, a janela do meu quarto que abre para o jardim. Eu vou reverenciar a divina bandoleira, antes a observo deitada na relva, nua ao vento.

Nunca vi face humana mais serena.

Fernando José Karl

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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