Concordo integralmente com o sempre lúcido – e insuspeito – presidente do PDU, Dante Mendonça, manifestada aqui, em nosso combativo diário, de que se existe alguém que não deveria ser atingida pela recente lei proibindo a contratação de parentes na máquina pública, é Maristela Quarenghi de Mello e Silva. Sabemos que a lei não abre exceções (por enquanto…) mas a sua permanência à frente do Museu Oscar Niemeyer é, a nosso ver, uma questão vital para a própria instituição. Ninguém, até aqui, desde a fundação do MON, entregou corpo e alma, vísceras e talento, ao projeto de fazer do museu uma referência nacional quanto ela.

Desnecessário seria lembrar o formidável catálogo de exposições que ali se deu sob sua responsabilidade. Das luzes e sombras de Cartier-Bresson, o genial fotógrafo, ao mundo em cor dos impressionistas franceses, sem falar da vanguarda alemã, dos artistas populares, da mágica (e irrepetível) retrospectiva de Cícero Dias, até os recentes e formidáveis Bacon e Lucien Freud.

Maristela sabe, desde há muito, pois foi participante ativa de um dos movimentos de ponta das artes plásticas no Paraná, o da criação da Galeria de Arte Cocaco, que um museu (ou uma galeria) não é só paredes a pendurar quadros. Com este pensamento nasceu o que costumo chamar de “geração Cocaco”, heróica reunião de esforços de um grupo pioneiro de Curitiba, e que, a ferro e fogo, fez acontecer, enfim!, a
Semana de Arte Moderna no Paraná.

Com considerável atraso, sem dúvida, mas que persistiria abaeterno caso o grupo, integrado entre outros, por Ênio Marques Ferreira, Philomena Gebran e, claro, Maristela Quarenghi, não enfrentasse a caretália de então. Tal geração dinamitou o paranismo esteticamente duvidoso,
senão moralmente condenável.

E pôs os pezões chapados de Portinari e as mulatas de grandes beiços de Di Cavalcanti a circular, para escândalo da velha guarda. Eu mesmo sou testemunha: ao visitar o sonetista curitibano Serafim França, já velhinho, em 1963, ele me perguntou, irônico, quem era o tal doidão que tinha achado uma pedra no meio do caminho…
E que aquilo não era poesia, pois não tinha rima nem sentimento (sic, sic)…

O “doidão”, não precisa dizer, senhores, os meus 14 anos descobriram, perplexos, depois, se chamava Carlos Drummond de Andrade… E o homem que não sabia desenhar nem pés, um tal de Portinari… Meninos, isso em Curitiba eu vi e ouvi!

Subtrair Maristela da direção do MON, impossível não concordar com Dante, significaria prejudicar a continuidade do trabalho que ali acontece, independente da coloração ideológica em que se debatem os políticos de plantão. O MON é bem maior que tudo isso.

Wilson Bueno (31/8/2008) O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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